sexta-feira, 6 de março de 2009

A falta de paternidade e a crise na Igreja e no mundo

Uma das causas da crise por que passa o mundo moderno e a Igreja é a quase total ausência de paternidade espiritual que nos assola. Por exemplo, qual foi a última vez que você viu um padre, onde quer que tenha sido, advertir os fiéis de sua paróquia que eles corriam o risco de ir para o inferno caso não confessassem todos e cada um de seus pecados mortais? Sim, pecados mortais como: faltar a Missa aos domingos sem justa causa, usar anticoncepcionais, apoiar políticos que defendem o aborto, usar drogas, ficar bêbado, ver pornografia, nutrir ódio por alguém em seu coração... Enfim... Onde está a paternidade espiritual?

E dado que os abusos litúrgicos figuram entre os piores pecados que se pode cometer, qual foi a última vez que alguém porventura já ouvir falar de algum bispo, em qualquer lugar que seja, punir qualquer padre, por qualquer abuso litúrgico? Então... Onde está a paternidade espiritual???

Nós precisamos de paternidade espiritual! Se os homens que deveriam praticar a paternidade espiritual estão gastando seu tempo praticando “contracepção espiritual”, por assim dizer, eles não poderão e não serão espiritualmente frutuosos. Padres espiritualmente estéreis não podem produzir vocações. Deus nunca muda. Nunca! A tão propagada crise de vocações é uma crise de paternidade!

Vamos agora voltar nossa atenção para considerar o correlato da falta de paternidade na nossa sociedade. Vejamos algumas estatísticas. Crianças que crescem sem pai possuem:

- 8 vezes mais chance de ir para a prisão;
- 5 vezes mais chance de cometer suicídio;
- 20 vezes mais chance de ter problemas comportamentais;
- 20 vezes mais chances de se tornarem estupradores;
- 32 vezes mais chance de se tornarem fugitivos;
- 10 vezes mais chance de abusar de substâncias químicas;
- 9 vezes mais chance de largar os estudos;
- 10 vezes mais chance de contrair AIDS na escola.

Abaixo temos mais algumas estatísticas, obtidas pelo “National Fatherhood Initiative” em uma pesquisa de âmbito nacional nos Estados Unidos (http://www.fatherhood.org/father_factor.asp):

Crianças sem pai representam:

- 72% de todos os adolescentes que cometeram assassinatos;
- 60 % de todos os estupradores;
- 70% de todas as crianças e adolescentes encarcerados;
- possuem 2 vezes mais chance de largar a escola
- são 11 vezes mais propensas a serem violentas;
- representam 3 em cada 4 suicídios ocorridos na adolescência;
- 80% dos adolescentes em hospitais psiquiátricos;
- 90% dos fugitivos.

Ainda uma última estatística. Um estudo da Universidade Duke mostra que, comparadas com as filhas que cresceram em uma casa com pai e mãe, uma garota que cresceu sem pai tem 5 vezes mais chance de perder a virgindade por volta dos 16 anos, se ela passou a viver sem o pai antes de completar 6 anos, e tem 2 vezes mais chance se tiver deixado de viver com ele aos 6 anos.

Portanto, a questão é que estamos vivendo uma crise de proporções bíblicas no que se refere à paternidade espiritual e natural.

Há vários fatores que contribuíram para que se chegasse a esse ponto, porém um fator que comumente tem sua importância subestimada é a guerra. Nunca, na história da humanidade, se perderam as vidas de tantos homens de uma só vez, como nas duas grandes Guerras Mundiais do século XX. Foram mais de 42 milhões de militares mortos no século passado. Isso significa que mais de 40 milhões de potenciais pais ou jovens pais foram enterrados nos campos de batalha. Não foi o único fator que levou a essa situação, mas teve um profundo impacto. Uma pequena história basta para ilustrar esse impacto. Na Inglaterra, em uma manhã de 1917, a diretora de um colégio apresentou-se às alunas perfiladas, e anunciou a elas: “Vim lhes dizer sobre um fato terrível. Apenas uma em cada dez de vocês, garotas, pode esperar se casar. Não estou fazendo adivinhações. É um fato estatístico. Quase todos os homens que poderiam se casar com vocês foram mortos. Vocês terão que trilhar seus próprios caminhos no mundo da melhor maneira que puderem”. Sessenta anos depois, uma dessas estudantes escreveu que essa tinha sido uma das coisas mais certas que tinha ouvido na vida. Apenas uma em cada dez de suas amigas tinha se casado, simplesmente porque não havia homens disponíveis. “Nunca teremos um lar alegre como o que fomos criadas, não teremos maridos, nem crianças, nem a ligação natural entre homem e mulher”.

Então, qual a solução? Há um princípio fundamental da vida espiritual que diz que “a graça aperfeiçoa a natureza”. A graça atua naquilo que somos em nossa natureza. Então, se não temos sacerdotes que agem como homens e pais, se os padres não são realmente pais espirituais, uma grande parte do problema reside no nível da natureza, não no nível da graça. O problema está realmente na natureza. Isso significa que, tanto a crise de paternidade espiritual na Igreja quanto a crise de paternidade na sociedade têm suas raízes na família. Delas é que provêm os homens. Colocando sob outra perspectiva: se temos bons padres que agem como pais, e bispos que agem com autoridade, é porque temos bons pais na família. Se temos uma sociedade ordenada, voltada para Deus, um lugar decente para viver, uma esposa relativamente feliz e crianças bem educadas, e um número significativo de pessoas vivendo em estado de graça, é porque temos bons pais. A solução é: bons pais!

A ordem na família depende do pai. Jesus Cristo veio dar aos homens a possibilidade da redenção, de contar com a graça divina para renovar todas as coisas, inclusive a graça sacramental específica para o homem viver no estado do matrimônio. Tudo isso para que cada pai em cada família possa se conformar com a imagem e o exemplo do próprio Cristo.

Então, o remédio é: bons pais! Talvez isso possa soar como um exagero. Bem, vejamos uma citação de um livro de Steve Woods:

“Milhões de crianças católicas crescem e deixam de ir regularmente à Igreja. Nos Estados Unidos, estima-se que apenas 13% dos jovens entre 18 e 29 anos acreditam que devem obedecer aos ensinamentos formais do Papa”. Ele escreveu isso em 2005, pode já ter piorado. “Na Inglaterra, 92 % dos jovens católicos deixam de praticar sua religião quando terminam os estudos na escola. Na Austrália, pesquisas oficiais da Igreja reportam que 95% dos adolescentes que freqüentam escolas católicas abandonam a Igreja. A cura para esse abandono em massa da Igreja é a figura do pai. Estudos mostram que, se um pai freqüenta a Igreja regularmente, ele transmite um legado permanente para seus filhos. Um estudo na Suíça fez uma pergunta: ‘O que leva a fé de uma pessoa crescer da infância até uma prática e fé religiosas adultas?’. O estudo descobriu que o fator que, de muito longe, importava mais, era a prática religiosa do pai. O pai determina os hábitos religiosos de seus filhos em um grau significativo. E as mães, também não podem fazer isso? Surpreendentemente, o estudo mostrou que, se o pai não vai à Igreja, não importa quanta fé a mãe tenha, apenas 1 em cada 50 jovens irá se tornar um fiel regular. Por outro lado, se o pai vai à Igreja, não importa a prática da mãe, cerca de dois terços a três quartos dos filhos se tornarão fiéis devotos” (Do livro: “Legacy: A Father's Handbook for Raising Godly Children”, de Steve Woods).

Mesmo se essas estatísticas não forem conclusivas, ainda assim é um resultado bastante significativo. Alguns conselhos práticos para os pais.

Pais, por favor, começando no nível da natureza, a não ser que seja impossível, tomem ao menos uma refeição em comum com sua família (almoço, janta), todo dia, e sempre que isso for possível. Seja o pai! Imponha disciplina! Abrace suas pequenas filhas, e gaste tempo com seus pequenos filhos, e coloque em sua agenda diária um tempo para fazer algo regularmente com seus filhos, seja fazer uma caminhada, ir pescar, andar de bicicleta, seja o que for. Gaste tempo com a recreação deles. Descubra algum trabalho para fazer com eles aos sábados de tarde (não aos domingos), e se você não consegue pensar em nada, invente alguma coisa, como por exemplo, pintar a cerca de casa, pintar a garagem, cuidar do quintal... Não se preocupe se as coisas não saírem perfeitas, quem se importa? Você pode refazer depois. Você pode pintar por cima. É apenas um meio para um fim. Você está atualmente preocupado em educar crianças virtuosas, e não em cuidados da casa.

Coma com seus filhos, brinque com seus filhos, trabalhe com seus filhos. Todas essas três coisas. Isso é muito importante, pais! Além disso, você tem que levar uma vida católica com seriedade. Isso não significa ser a cópia de um padre, mas significa viver em estado de graça, obedecer aos Mandamentos de Deus, aplicando as leis de Deus em sua própria casa, ir regularmente para a confissão, ou seja, ser um exemplo de bom católico. Você é o homem no qual as pessoas da casa se espelham! Se você não vai regularmente à confissão e não vive uma boa vida católica, não espere que seus filhos façam isso, pelo menos não por um bom tempo. E também não espere que seus filhos venham passar a eternidade no céu também. Isso pode soar duro, mas é assim que é.

Volte-se para a oração, reze o terço todos os dias! Assegure-se que o resto da família reze o terço todos os dias. Nossa Senhora não estava entediada no céu, imaginando o que estavam fazendo em Portugal em 1917. A Bem-Aventurada Mãe de Deus desceu dos céus e veio nos dar uma mensagem. Quem somos nós para ignorar essa mensagem? Assegure-se que sua família não ignora essa mensagem. Inicie você orações, ao menos quando seus filhos forem dormir, e antes das refeições. Abençoe seus filhos toda noite, antes deles dormirem. A mãe também pode fazer isso. Não são bênçãos sacerdotais, mas são bênçãos verdadeiras. Abençoe seus filhos, e se tiver, também seus netos.

Então, seja um exemplo para sua casa, com uma vida católica virtuosa, confissões regulares, a oração do terço, liderando as orações em casa. E finalmente, quando seus filhos forem pequenos, você pode estabelecer algo como “a hora do papai”, não precisa ser necessariamente uma hora completa, mas também não precisa ser só um minuto. Aos domingos, sente com seu filho, e mostre para ele livros ilustrados sobre a vida e a história de São José, de Nossa Senhora, ou a vida de algum santo, seja o que for. Nós temos as melhores histórias! E você precisa ser o pai que vai transmitir isso aos filhos.

Pais! Se vocês não fizerem isso, quem fará? É para isso que Deus confiou a VOCÊ seus filhos. E você espera ver todos e cada um deles no paraíso. Essa é a sua missão, é por isso que Deus fez de você o chefe da família, para que você os leve para o céu. Você tem, literalmente, uma missão dada por Deus, e que só você pode cumprir. Você tem que ser o PAI. Ninguém mais pode ser por você. Então, a quem você vai imitar? A Adão ou a Cristo?

Transcrição de trecho de palestra em áudio com o título: “Spiritual Fatherhood: The Solution to the Modern Crisis”. Originalmente disponível em:
http://www.audiosancto.org/categories/marriage-and-family.php

O Padre que deu a palestra não pode ser identificado pelos seguintes motivos:
http://www.audiosancto.org/pages/about.php

Link também encontrado em:
http://catholic-dads.blogspot.com/2008/06/audio-spiritual-fatherhood-solution-to.html

e em:
http://catholicaudio.blogspot.com/2008/07/calling-all-dads.html

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