sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

As passagens bíblicas mais importantes para a Teologia do Corpo

Um bom passo para começar a conhecer e estudar a Teologia do Corpo é pelas passagens bíblicas mais importantes, que são ponto de partida para as reflexões que estão contidas nesses ensinamentos.



A Teologia do Corpo pode ser compreendida como um grande estudo bíblico. São João Paulo II reuniu em 133 catequeses seu ensinamento sobre o corpo, o amor verdadeiro, e a afetividade humana. Esse conteúdo foi dividido pelo próprio João Paulo II em grandes seções. Na maioria das vezes elas iniciam com uma passagem bíblica, e a partir daí seguem as reflexões e análises.

O objetivo dessa metodologia de S. João Paulo II é cobrir toda a história de nossa salvação, desde a criação do ser humano (Gênesis), até a consumação dos tempos (Apocalipse), esclarecendo o projeto de Deus para nossa sexualidade e para o todo de nossa salvação.

A primeira grande seção, ou o primeiro grande tema, é justamente a criação do ser humano, enquanto homem e mulher. Nesse ponto, S. João Paulo II comenta sobre praticamente todo o capítulo 2 de Gênesis, mas o versículo chave é Gênesis 2,24: "Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne". Aqui se mostra em plenitude o plano original de Deus para o ser humano: existindo em sexos distintos (homem, mulher) o ser humano é chamado desde o princípio a uma união de amor, união em "uma só carne". Mas São João Paulo II traz à tona essa passagem do Gênesis através das palavras do próprio Jesus em Mateus 19, 3-9:

"Após esses discursos, Jesus deixou a Galiléia e veio para a Judéia, além do Jordão. Uma grande multidão o seguiu e ele curou seus doentes. Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer? Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu. Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la? Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim. Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério."

Aqui Jesus, no diálogo com os fariseus, chama a atenção dos seus ouvintes para a importância de relembrar o plano original de Deus para o amor entre homem e mulher, e esse plano é que está no centro das reflexões da Teologia do Corpo.

Na segunda seção, o tema passa a ser a queda de Adão e Eva e a consequente expulsão do Paraíso, e a análise de toda a condição humana após o pecado original. Nessa seção, que é a mais longa de toda a Teologia do Corpo, o foco se volta para o interior do ser humano. É no "coração" do ser humano (entendido aqui como o centro interior de nossa alma, de nossas decisões) que vai se mostrar presente o pecado, alterando o plano original de Deus. Após discutir sobre o pecado original e suas consequências, São João Paulo II reflete sobre a graça santificante de Cristo, e a proposta que Ele faz ao coração humano de viver a pureza. Por isso a passagem "chave" para toda essa seção vem do Sermão da Montanha, em Mateus 5, 27-28: 

"Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração". 

A esse chamado de Jesus em direção à pureza de coração, o ser humano deve responder vivendo uma vida renovada, "no Espírito", abandonando o pecado em seu coração e vivendo a graça de Deus. Essa seção é fundamental para a compreensão do estado atual do ser humano, pois todos nós vivemos nessa condição: herdamos as consequências do pecado original, mas nos abrimos para a graça santificante de Cristo. Nessa seção também é onde se podem traçar mais paralelos com os acontecimentos cotidianos que exigem nosso discernimento segundo uma correta moralidade.

Na terceira seção, São João Paulo II passa a falar de nosso futuro escatológico, ou seja, da Ressurreição e do "mundo que há de vir". A Igreja ensina que Jesus virá novamente para reunir todos os eleitos consigo no céu, e que ressuscitaremos assim como Ele ressuscitou. A passagem "chave" aqui vem de Marcos 12, 18-27:

"Ora, vieram ter com ele os saduceus, que afirmam não haver ressurreição, e perguntaram-lhe: Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se morrer o irmão de alguém, e deixar mulher sem filhos, seu irmão despo-se a viúva e suscite posteridade a seu irmão. Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou e morreu sem deixar descendência. Então o segundo desposou a viúva, e morreu sem deixar posteridade. Do mesmo modo o terceiro. E assim tomaram-na os sete, e não deixaram filhos. Por último, morreu também a mulher. Na ressurreição, a quem destes pertencerá a mulher? Pois os sete a tiveram por mulher. Jesus respondeu-lhes: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus. Na ressurreição dos mortos, os homens não tomarão mulheres, nem as mulheres, maridos, mas serão como os anjos nos céus. Mas quanto à ressurreição dos mortos, não lestes no livro de Moisés como Deus lhe falou da sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Êx 3, 6)? Ele não é Deus de mortos, senão de vivos. Portanto, estais muito errados."

Nesse trecho do Evangelho, Jesus explica como o período "futuro", do "mundo que há de vir", o novo paraíso após a Ressurreição, será uma experiência diferente da que temos aqui na terra, e onde não caberá mais a realidade do matrimônio como o entendemos aqui (eles não tomarão mulheres nem maridos), mas essa realidade temporal será suplantada por uma nova realidade onde estaremos junto a Deus, contemplando-o "face a face", e vivendo em seu amor, ou usando a expressão do Apocalipse, nas "núpcias do Cordeiro".

Também nessa seção sobre a ressurreição está incluída uma série de catequeses sobre o celibato como vocação e maneira de viver o chamado a uma vida plena de entrega de sua própria vida aos irmãos. Vale a pena ler a passagem que referencia essas reflexões, em Mateus 19, 10-12:

"Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar! Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda."

Na quarta seção, São João Paulo II volta-se para o tema do matrimônio, e passa a explicar e analisar esse sacramento, primeiramente em sua dimensão teológica. É uma reflexão que busca explicar a razão pela qual esse sacramento é tão importante. Busca analisar o seu significado mais profundo. Poderíamos até dizer, em sua dimensão mais "conceitual". Para isso, São João Paulo II chamou essa dimensão de "Dimensão da Aliança e da Graça". A passagem "chave" nesta seção vem de Efésios 5, 21-32:

"Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja - porque somos membros de seu corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2, 24). Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja."

Essa passagem é muito importante para entender o sentido mais profundo do matrimônio: o sentido esponsal. Ter um sentido ou significado esponsal quer dizer tomar como modelo a relação de amor entre Cristo e a Igreja, e fazer da relação matrimonial uma relação de doação: ser esponsal é ser capaz de dar amor, de entregar a si mesmo e a própria vida por amor.

Na quinta seção, São João Paulo II fala da dimensão dos sinais sacramentais que fazem o matrimônio. Essa "Dimensão do Sinal" é explicada a partir dos próprios ritos previstos para a cerimônia do matrimônio, mas também na percepção mais atenta de que também a união conjugal em si é também um sinal visível que compõe esse sacramento. Nessa seção se encontra também um comentário sobre o livro "Cântico dos Cânticos", da Bíblia, e uma reflexão sobre a história de Tobias, presente nos capítulos 6 a 8 do livro de Tobias. Destaca aqui apenas a oração com que Tobias e Sara iniciam sua vida conjugal, presente em Tobias 8, 4-10:

"Então Tobias encorajou a jovem com estas palavras: Levanta-te, Sara, e roguemos a Deus, hoje, amanhã e depois de amanhã. Estaremos unidos a Deus durante essas três noites. Depois da terceira noite consumaremos nossa união; porque somos filhos dos santos (patriarcas), e não nos devemos casar como os pagãos que não conhecem a Deus. Levantaram-se, pois, ambos, e oraram juntos fervorosamente para que lhes fosse conservada a vida. Tobias disse: Senhor Deus de nossos pais, bendigam-vos os céus, a terra, o mar, as fontes e os rios, com todas as criaturas que neles existem. Vós fizestes Adão do limo da terra, e destes-lhe Eva por companheira. Ora, vós sabeis, ó Senhor, que não é para satisfazer a minha paixão que recebo a minha prima como esposa, mas unicamente com o desejo de suscitar uma posteridade, pela qual o vosso nome seja eternamente bendito. E Sara acrescentou: Tende piedade de nós, Senhor; tende piedade de nós, e fazei que cheguemos juntos a uma ditosa velhice!"

Finalmente, a sexta e última seção da Teologia do Corpo é um comentário sobre a Encíclica Humanae Vitae, que versa sobre a vida humana e o relacionamento de homem e mulher no casamento. Essa Encíclica foi escrita pelo Papa Paulo VI em 1968, e ficou mais conhecida por reafirmar a perene doutrina da Igreja Católica de que meios de contracepção artificial não são moralmente corretos, por retirar do ato conjugal a dimensão procriativa. Para ser moralmente correto, todo ato conjugal deve preservar as suas duas dimensões: a dimensão unitiva e a dimensão procriativa. Nessa seção não há uma passagem bíblica específica, mas aqui São João Paulo II afirma que chegou ao ponto culminante, por assim dizer, de suas reflexões, e que todos os ensinamentos das seções anteriores são importantes para compreender uma posição moral que a Igreja continua sustentando, e que pela qual sofre muitas críticas, justamente por não ser bem compreendida. Minha opinião pessoal é que esse é um dos assuntos mais importantes para o mundo atual, podendo ser um ponto de partida para uma verdadeira renovação do panorama da vivência da sacramentalidade do matrimônio.

Se você tem dúvida sobre algumas dessas passagens, ou ficou querendo saber quais os comentários de São João Paulo II sobre elas, eu incentivo você a conhecer melhor a Teologia do Corpo. Esses ensinamentos estão mudando vidas ao redor do mundo. Fica então o convite para que você, ao ler e refletir sobre essas passagens bíblicas, possa se sentir motivado para iniciar seus estudos da Teologia do Corpo de uma forma mais profunda. Que Deus abençoe!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Uma conversa sobre masturbação

Há algum tempo atrás, enquanto dava uma palestra, uma pessoa simplesmente não acreditou quando eu disse que masturbação não fazia bem, e era pecado. Ele não achou que estivesse falando sério.

O problema com os pecados contra a castidade é que, infelizmente, vivemos em um mundo que não valoriza a pureza, e portanto não consegue conceber o que é ser uma pessoa pura de coração, porque simplesmente essa é uma experiência que lhe foge completamente. Para muitas pessoas está simplesmente fora de seu horizonte de existência.




Primeiramente é preciso dizer que a castidade não é sinônimo de abstinência de sexo. Pode ser que, no caso da pessoa solteira, coincida com a abstinência. Mas cônjuges também devem viver a castidade em seus relacionamentos íntimos. A castidade é a virtude da temperança e da pureza, vivida com relação ao corpo e a sexualidade. Ela significa viver os valores sexuais (sim, eles são valores positivos!) dentro de sua justa proporção, dentro do plano para o qual foram criados por Deus. Significa viver os valores sexuais dentro de uma realidade maior, onde a atração sexual está a serviço do amor verdadeiro, e a ele se orienta.

O contrário da castidade é a luxúria, é um vício que leva as pessoas a ver seu semelhante como um objeto de satisfação de prazeres, e não um ser humano integral que recebe amor e é amado(a). Quem não vive a castidade não sabe o que é amor, pura e simplesmente, porque confunde amor com atração sexual, confunde amor com satisfação sensual, confunde amor com prazeres carnais.

Não é que o verdadeiro amor exclui o prazer. Não. Cônjuges que vivem seus relacionamentos íntimos com certeza sentem prazeres sensuais. Mas, se eles se amam de verdade, não escolheram amar a outra pessoa só por causa desse prazer que ele(a) proporciona. O prazer vem em decorrência de sua união. Não foi a causa da união. A causa da união foi, e continua sendo, o amor verdadeiro. Com o passar dos anos, quando a atração sexual vai normalmente diminuindo, o que fica entre eles é o amor. Casais que não fizeram do amor a razão primeira de sua escolha de um para o outro, nesse ponto correm o risco de cair em um vazio. Muitas vezes essa é a causa do divórcio. Quem não ama de verdade não sabe superar as dificuldades da vida em comum, perdoar as deficiências da outra pessoa, viver escolhendo novamente aquela pessoa de novo e de novo, a cada dia.

Hoje em dia a masturbação é comumente praticada entre adolescentes. Em uma pesquisa acadêmica de 2011, 80% dos jovens rapazes americanos de 17 anos reportaram ter praticado masturbação pelo menos uma vez na vida (1), com mais da metade reportando uma frequência de pelo menos algumas vezes no mês. A percentagem de jovens que se masturbam é maior entre os homens, porém entre as mulheres está longe de ser um raridade. O percentual de jovens mulheres americanas de 17 anos que reportaram ter praticado masturbação chega a 58%, consituindo mais da metade (1).Com uma percentagem tão alta, não é de estranhar que as pessoas passem a ver a masturbação como uma coisa "normal".

O que é preocupante com isso tudo é que a masturbação não ensina a viver os valores sexuais dentro da dimensão do amor verdadeiro.  Organizações e profissionais de saúde tendem a considerar a masturbação como uma prática "normal", "natural", como "parte do desenvolvimento da sexualidade". Mas essa visão não levam em conta aspectos morais. A tendência desses profissionais e pessoas supostamente "entendidas" do assunto é que a religião só serve para trazer "culpa" e sentimentos de "angústia" para os adolescentes, pois a religião se permite questionar se a masturbação faz mesmo bem ou não para os jovens. Por isso, muitas vezes sugerem "abandonar" as visões religiosas, sugerindo que isso vai trazer melhor "auto-estima" para os adolescentes.

Essa é uma visão muito simplista, e que não considera o ser humano como um todo. Nós temos uma consciência moral, não somos apenas "animais evoluídos" que se limitam a reagir psicologicamente a estímulos. Não é a religião que "cria" sentimentos de culpa, mas nossa própria consciência parece nos alertar que "algo está errado aqui". Mas, infelizmente, essa visão preconceituosa contra a religião é a que prevalece, e muitas vezes as pessoas nem querem ouvir o que a religião tem a dizer sobre o assunto.

Somado a isso, temos, infelizmente, o mau exemplo de muitos líderes religiosos, que, por um motivo ou por outro, não sabem traduzir em palavras boas e afirmativas uma proposta convincente para os jovens de hoje viverem a castidade.

Paremos para pensar por um momento sobre o que é a masturbação: uma estimulação dos próprios órgãos genitais visando obter prazer. Agora passemos a comparar essa definição com o projeto de uma relação madura e feliz: um casal que se ama de verdade e se compromete no matrimônio a viver em fidelidade para fazer o outro feliz, e que como instrumento de expressão desse amor vive a união sexual aceitando plenamente tudo que ela traz, ou seja, uma união de vida, não só de corpo, mas também de sentimentos e companheirismo. Agora vem a pergunta: como uma coisa pode ajudar a outra? Como a masturbação pode ajudar a viver em plenitude a vocação matrimonial? A resposta é: não pode.

Não pode porque a masturbação não tem nenhuma característica que venha a "treinar" ou "preparar" a pessoa para viver em um matrimônio sadio, satisfatório, onde existe verdadeiro amor e complementaridade. Mesmo a nível puramente do prazer sexual, a masturbação "treina" o cérebro para se excitar com situações e práticas que não farão parte do panorama de uma relação sexual a dois, normal, entre os cônjuges.

Mas lembre-se que o matrimônio não é composto só de prazer sexual. O prazer é uma parte de um todo mais complexo, que inclui a escolha de um pelo outro, a aceitação social de viver juntos e partilhar a mesma casa e conviver com as mesmas famílias, a aceitação e criação dos filhos, o companheirismo de quem prometeu viver o resto da vida em fidelidade e amor para com aquele(a) cônjuge. Todos esses fatores não são tocados nem de perto pela masturbação.

Por isso o Catecismo da Igreja Católica relata que "a masturbação é um ato intrínseca e gravemente desordenado", pois "o uso da faculdade sexual fora das relações conjugais normais (leia-se: casamento) contradiz sua finalidade" (2).

Uma pessoa certa vez argumentou comigo que a masturbação seria "natural" por fazer parte de um processo de "descoberta do próprio corpo". Esse argumento não pode ser levado a sério. Pare para pensar no caso de um jovem que pratica masturbação frequentemente, vamos dizer mais de duas vezes por semana, repetindo isso durante os anos de sua adolescência. Ao chegar na vida adulta, esse jovem terá realizado centenas, senão milhares de atos de masturbação. Fica difícil argumentar sobre a necessidade de uma quantidade tão grande de masturbação para "descoberta do próprio corpo" quando sabemos que o corpo de um ser humano normal ocupa uma quantidade tão limitada de espaço. Em outras palavras, é patético dizer que o jovem precisa se masturbar tantas vezes para "conhecer o próprio corpo" quando seu corpo é claramente limitado espacialmente falando.

Além do mais, para "conhecer o próprio corpo" não é preciso experimentar prazer sexual. Então algumas pessoas podem argumentar que é preciso "conhecer o prazer sexual". Não existe nenhuma razão para uma suposta "necessidade" de conhecer as sensações envolvidas no prazer sexual fora do casamento, a não ser a própria busca de prazer. E, a título de argumentação, não seria verdade que um só orgasmo já seria suficiente para saber o que ele é? Portanto, após a primeira masturbação as outras não teriam mais sentido, segundo esse argumento. Fica claro que a defesa que algumas pessoas fazem da masturbação não passa de "desculpas" para tentar calar a própria consciência e tentar tornar "normal" uma prática que, no fundo, não leva a nada, e não tem nenhum sentido real para existir. O único (falso) "sentido" é a busca do prazer.

Como vivemos em uma sociedade que faz do prazer o único e absoluto bem, as pessoas continuam buscando esse prazer a qualquer custo. Para uma pessoa que se converte, vem a crise, porque ela passa a conhecer mais sobre moralidade, Deus, a religião, o bem, o amor verdadeiro, Jesus Cristo, e de repente não quer "largar" os hábitos antigos, porque isso implicaria renunciar a prazeres com os quais está acostumada. Tem dificuldade para abandonar esses "prazeres" não só por motivos psicológicos, mas até mesmo por motivos neurológicos, pois nosso cérebro se "acostuma" com aquilo, e tem verdadeiras "crises de abstinência". (3)

Dizer que não é fácil viver a castidade é chover no molhado. É óbvio. Mas Jesus nunca disse que segui-lo seria fácil. Ele pediu para entramos na porta estreita (4). Temos muito a ganhar se passarmos a procurar entender o que é o amor verdadeiro, e procurarmos vivê-lo em plenitude. Outros artigos do nosso blog podem ajudar. (5)

Uma última palavra, então, para você que está lendo esse artigo: não desista nunca da busca da pureza, da castidade. Se o caminho é longo, ele começa pelo primeiro passo. E se vierem quedas, sempre se levante. Longe de te deixar triste ou angustiado, esse caminho vai ter levar a descobrir uma nova realidade, onde existe mais paz e felicidade.



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Notas:

 (1) Prevalence, Frequency, and Associations of Masturbation With Partnered Sexual Behaviors Among US Adolescents. Cynthia L. Robbins, MD; Vanessa Schick, PhD; Michael Reece, PhD, MPH; et al Debra Herbenick, PhD, MPH; Stephanie A. Sanders, PhD; Brian Dodge, PhD; J. Dennis Fortenberry, MD, MS. Arch Pediatr Adolesc Med. 2011;165(12):1087-1093. Disponível em: <http://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/1107656>

(2) Catecismo da Igreja Católica, §2352 (http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s2cap2_2196-2557_po.html)

(3) Veja artigo no blog Vida e Castidade: "A pornografia é tão perigosa quanto cocaína ou heróina" (http://vidaecastidade.blogspot.com/2017/02/a-pornografia-e-uma-droga-tao-perigosa.html)

(4) Mt 7, 13 - "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram."

(5) Artigos sobre masturbação (http://vidaecastidade.blogspot.com/2009/05/artigos-sobre-masturbacao.html
Artigos sobre pornografia (http://vidaecastidade.blogspot.com/2009/05/artigos-sobre-pornografia.html
Artigos sobre Teologia do Corpo (http://vidaecastidade.blogspot.com/2009/05/artigos-sobre-teologia-do-corpo.html)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Divulgando a Teologia do Corpo

Não é fácil resumir o que seja a Teologia do Corpo em uns poucos parágrafos. Creio que um dos problemas que criam dificuldades para uma disseminação mais ampla de seus ensinamentos é o fato de que ela é extensa, e muitas vezes um pouco complexa.



São 133 catequeses no total. Cada catequese explica com mais detalhes um determinado ponto. A sucessão das catequeses é que vai criando um sentido geral, delineando os caminhos do pensamento de São João Paulo II. Às vezes é preciso ler tudo para ter uma visão geral. Às vezes é preciso descer em detalhes específicos, para evitar mal-entendidos.

Para conhecer pelo menos superficialmente a Teologia do Corpo eu diria que uma pessoa precisa ao menos ler todas as 133 catequeses. É óbvio, mas às vezes é preciso dizer o básico. Uma pessoa não pode sair por aí ensinando Teologia do Corpo se nem sequer leu odas as catequeses. E isso já não é pouca coisa. São muitas páginas, e às vezes a compreensão não é total, é difícil, para a maioria de nós, que não tem bagagem acadêmica na área da filosofia ou teologia. Sem falar que muitas vezes certos assuntos, por si só, dariam material para muito tempo de reflexão. Como atrair as pessoas para uma tarefa que, apesar de recompensadora, é árdua?

Penso que um dos caminhos é trazer para a atenção das pessoas as idéias de São João Paulo II a partir do comentário de fatos, acontecimentos e costumes do cotidiano. Por exemplo, a maneira com que as pessoas se vestem. Vez ou outra isso é assunto de polêmica, envolvendo um ou outro artigo de jornal sobre alguma personalidade famosa, ou sobre algum acontecimento que chama a atenção. Isso pode iniciar um debate sobre a modéstia no vestir. Por sua vez, a modéstia no vestir pode trazer a discussão do que a Igreja tem a falar sobre isso. O que poderia trazer, por exemplo, a passagem da Bíblia sobre o momento em que Adão e Eva se cobrem ao sentir vergonha, um episódio discutido em algumas catequeses. Isso pode levar a discutir e explicar essas catequeses, o que São João Paulo II nos esclarece com elas.

Esse é um caminho que pode aproveitar o "gancho" de assuntos que estão em discussão no momento, e trazer o foco para a  Teologia do Corpo, incentivando seu estudo. O importante é que o conhecimento da Teologia do Corpo sejam cada vez mais incentivado, e seu conteúdo cada vez mais estudado e assimilado na cultura atual, no comportamento das pessoas, e na formação das consciências.

Um segundo caminho que também considero fundamental é a existência de um estudo mais extenso, complexo e sistemático da Teologia do Corpo. É claro que nesse ponto somente algumas pessoas estariam interessadas. Mas não seriam somente professores e alunos de teologia ou filosofia. Qualquer pessoa com interesse e motivação pode perfeitamente estudar de modo mais profundo, e ganhar muito com isso. 

Um leigo católico não necessariamente precisa ter formação acadêmica para ter uma compreensão profunda, de qualidade, dos ensinamentos da Igreja. Os ganhos são vários: uma pessoa com esse estudo mais aprofundado terá mais subsídio para sua própria santificação pessoal e de seus próximos (familiares, amigos), bem como estará mais preparado para liderar instâncias de divulgação da Teologia do Corpo, como grupos de estudo, cursos, palestras etc. 

Precisamos dessas pessoas que se disponham a um estudo mais aprofundado por dois motivos. Primeiro para garantir a fidelidade à letra das catequeses, evitando e corrigindo distorções que a superficialidade de abordagens mais simples pode trazer. Em segundo lugar, para produzir material (escrito, audio-visual) que possa ajudar a transformar a cultura, expondo cada vez mais pessoas à esses ensinamentos.

Espero que possa escrever no futuro alguns artigos que possam seguir os dois caminhos: alguns artigos comentando aspectos do cotidiano a partir do ponto de vista da Teologia do Corpo, e outros artigos com uma característica de mais profundidade e com um conteúdo mais sistematizado

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Padre Paulo Ricardo denuncia mais uma artimanha para normalizar o aborto no Brasil

Padre Paulo Ricardo denuncia em artigo e em vídeo nova artimanha para tornar o aborto uma prática comum no Brasil.
Trata-se do Projeto de Lei 7371/2014, que esconde por detrás do "Combate à Violência contra a mulher" condições práticas para a realização de abortos indiscriminadamente no país.

É muito importante todos tomarem conhecimento do assunto, e investigarem quem está por trás desse projeto de lei, quais são os políticos que estão influenciando nesse sentido. Combater esses políticos deve ser prioridade para qualquer católico.

Veja:




A pornografia é uma droga tão perigosa quanto cocaína ou heroína

Recomendo a leitura do site: http://fightthenewdrug.org. A tradução seria algo como "Combata a nova droga". Esse site, além de ter um visual moderno e agradável, apresenta uma série de artigos que comprovam os perigos da pornografia. Muitos artigos apresentam um amplo embasamento científico, com várias citações de pesquisas acadêmicasimportantes.

Os artigos são divididos em três categorias:
- Como a pornografia afeta seu cérebro
- Como a pornografia afeta seu coração
- Como a pornografia afeta o mundo

Na seção que fala sobre os efeitos da pornografia no cérebro, existe um artigo chamado "Como a pornografia afeta o seu cérebro semelhante a uma droga" (http://fightthenewdrug.org/how-porn-affects-the-brain-like-a-drug/) (1). Nele, são citadas várias pesquisas acadêmicas que comprovam que a pornografia age no cérebro com a mesma intensidade com que uma droga como a cocaína, por exemplo. Ela cria um vício, onde a pessoa fica "presa" tentando voltar a sentir os mesmos prazeres de novo e de novo, em um círculo vicioso.

Em um vício de drogas como a cocaína, o viciado inicialmente tem sensações agradáveis, o que o fazem buscar mais a droga. Com o tempo, porém, vem um ajuste natural, que torna necessário cada vez mais quantidade da droga para chegar aos níveis desejados daquela sensação. Esse fenômeno é chamado tolerância, e deve-se a uma adaptação natural do cérebro à presença da droga.

Com a pornografia acontece o mesmo fenômeno, pois a visão desse material pornográfico faz o cérebro liberar as mesmas substâncias (chamadas neurotransmissores, principalmente a dopamina) que o viciado em drogas experimenta quando entra em contato com a heroína, por exemplo.

Outro fenômeno que acontece com o viciado é a chamada "crise de abstinência", onde a pessoa passa a sofrer vários sintomas na ausência da droga, como depressão, irritabilidade, alterações de humor, entre outras. O mesmo acontece com a pornografia. Quando uma pessoa se acostuma a olhar material pornográfico, o cérebro da pessoa se acostuma com a liberação da dopamina, e fica viciada naquelas sensações proporcionadas. De modo que a falta de pornografia na vida da pessoa passa a levar a crises de abstinência, e fazem a pessoa procurar novamente aquele tipo de material.

O que estamos falando aqui não é brincadeira, nem é invenção. São descobertas de pesquisas científicas publicadas em revistas respeitadas nos meios acadêmicos. Estamos apenas, enquanto sociedade, começando a descobrir e comprovar o perigo que a pornografia pode representar para a saúde mental das pessoas. Sem falar nos outros prejuízos, no campo espiritual ou social, por exemplo.

E com a internet proporcionando uma quantidade inesgotável de material pornográfico, existe sempre oportunidade para mais, com novas versões cada vez mais extremas e chocantes de pornografia. O perigo está a um clique de distância, muitas vezes atingindo crianças e adolescentes com pouca idade.



"É como se estivéssemos descobrindo uma nova forma de heroína... utilizável na privacidade de sua própria residência e injetada diretamente no cérebro através dos olhos.", diz o Dr. Jeffrey Satinover, da Univerdade de Princeton, Estados Unidos. (2)

Dê uma olhada no artigo original, e veja as citações. São pesquisas acadêmicas publicadas em jornais científicos, bem como citações de livros e pronunciamentos de cientistas.

Está na hora de alertar a sociedade para essa realidade, pois a pornografia é pouco comentada, em geral. Enquanto o silêncio reina, está se criando um contingente enorme de pessoas dependentes, viciadas, com sérios prejuízos psicológicos, espirituais e sociais. Muitas dessas pessoas são crianças e adolescentes, que terão sua saúde mental e sua visão de sexualidade afetadas por toda a vida.

Divulgue esse artigo e ajude a combater esse mal. Busque ajuda se você se reconhece como dependente de pornografia. Existem outros artigos na seção sobre pornografia aqui deste blog que podem ajudar.

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Notas:
(1) Veja o artigo original em: http://fightthenewdrug.org/how-porn-affects-the-brain-like-a-drug/
(2) Satinover, J. (2004). Senate Committee on Commerce, Science, and Transportation, Subcommittee on Science, Technology, and Space, Hearing on the Brain Science Behind Pornography Addiction and Effects of Addiction on Families and Communities, November 18.



domingo, 19 de fevereiro de 2017

O desafio da castidade - Criando uma cultura da castidade

Vivemos em um mundo que absolutamente não acredita que é possível viver a castidade. O mundo nem sequer entende direito o que é castidade. A maioria das pessoas, durante o percurso de toda uma vida, normalmente não entra em contato com nenhuma explicação séria sobre o assunto. Nenhum artigo sensato sob o ponto de vista da moral e dos bons costumes. Nenhum vídeo ou programa de televisão explicando o real sentido do amor e da castidade. Nenhuma pessoa próxima disposta a dar um bom conselho.

Ao contrário, a sensação que se tem, de modo geral, é que a castidade é impossível. Só o que se escuta são aquelas risadas de quem faz pouco caso do assunto. Se a gente experimenta falar sobre castidade para uma pessoa aleatória com quem temos que conviver na vida, damos de cara com aqueles olhares que parecem nos perguntar se a gente é de outro mundo.

Também não é para menos. Pare um pouco para pensar. Independente do nível de engajamento na Igreja que você tenha, a probabilidade é que você tenha ouvido falar muito pouco, ou quase nada, sobre castidade. Se você participa de grupos de oração para jovens, eu pergunto: quantas formações seu grupo já lhe proporcionou sobre o assunto? Se você vai para a Igreja no Domingo, quantas vezes você já ouviu o Padre falar sobre castidade no sermão? Se você tem uma família católica, quantas vezes seu pai ou sua mãe já conversou com você para lhe orientar sobre o que é, e qual a importância da castidade?

E mesmo que você já tenha ouvido palestras, sermões, ou conversado com alguém sobre o assunto, provavelmente (pare pra refletir) você já ouviu, leu, viu, entrou em contato com muito material que leva você para longe, bem longe da castidade, com uma frequência muito, mas muito maior mesmo.  Não estou falando só de pornografia. Estou falando de programas de televisão no domingo de tarde. Estou falando de artigos de revistas para adolescentes. Estou falando de conversas no corredor do colégio ou da faculdade.

É uma luta desigual. Você pode até dizer que não é influenciável, mas todos nós, uns mais outros menos, sofremos a influência do que vemos, ouvimos, lemos, discutimos. É uma luta desigual comparar uns poucos minutos de pregação sobre castidade que você já teve em sua vida, com uma infinidade de artigos de revista, de programas de televisão, de conversas com amigos, e tantas outras coisas que levam para longe, muito longe da castidade.

É de admirar que mesmo com a balança pesando tanto a favor do lado ruim, ainda exista gente que vive a castidade nesse mundo. Mas existe. E não são poucos. Cito o exemplo de uma pesquisa americana. Muitos esperariam um crescimento na atividade sexual na adolescência nos últimos anos, a julgar pela difusão da pornografia e da "sexualização" da sociedade. Mas, na verdade, essa pesquisa revelou que, de 1991 a 2007, não existiu crescimento acelerado na atividade sexual dos jovens. Pelo contrário, a tendência é de estagnação, ou mesmo de queda (1). E, dos que já tiveram experiência sexual, aproximadamente dois terços (dois de cada três) disse se arrepender de ter não ter esperado mais. (2)

Isso, para mim, só pode significar uma coisa: a consciência pessoal continua viva. Continua firme e forte. Para aqueles que não cedem às pressões da sociedade, e seguem sua consciência, é possível viver a castidade.

Significa também que o terreno está aí, pronto para receber a semente. Muitos jovens estão sedentos de alguém que lhes explique o que é castidade. Uma voz que lhes convide a ser mais gente, mais humano, mais razoável. Alguém que lhes desafie a ser o melhor que podem ser e fazer de si mesmos. Os jovens querem ser dignos, eles querem ser castos. Só precisam de ajuda para isso.

Precisamos criar uma cultura da castidade. Precisamos de textos, de vídeos, de artigos, de pessoas que falem de castidade, que expliquem o que é, que falem de sua beleza, que falem de tudo que podemos ganhar com ela. Precisamos criar material e influenciar a cultura. Precisamos virar o jogo. É possível. E o primeiro passo é tirar da cabeça das pessoas essa idéia de que castidade é uma coisa do outro mundo. 

A princípio as pessoas podem até ficar chocadas com o que vão ouvir. Mas precisamos estar preparados para isso. Precisamos ser agentes de mudança. Primeiramente, precisamos acreditar nós mesmos na beleza e na possibilidade da castidade. Vivê-la e acreditar em seu poder de nos fazer mais felizes.

Você topa o desafio?

Aqui no blog vamos continuar tentando ajudar a criar essa cultura da castidade. Reze por nós.



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Notas: