Um bom passo para começar a conhecer e estudar a Teologia do Corpo é pelas passagens bíblicas mais importantes, que são ponto de partida para as reflexões que estão contidas nesses ensinamentos.
A Teologia do Corpo pode ser compreendida como um grande estudo bíblico. São João Paulo II reuniu em 133 catequeses seu ensinamento sobre o corpo, o amor verdadeiro, e a afetividade humana. Esse conteúdo foi dividido pelo próprio João Paulo II em grandes seções. Na maioria das vezes elas iniciam com uma passagem bíblica, e a partir daí seguem as reflexões e análises.
O objetivo dessa metodologia de S. João Paulo II é cobrir toda a história de nossa salvação, desde a criação do ser humano (Gênesis), até a consumação dos tempos (Apocalipse), esclarecendo o projeto de Deus para nossa sexualidade e para o todo de nossa salvação.
A primeira grande seção, ou o primeiro grande tema, é justamente a criação do ser humano, enquanto homem e mulher. Nesse ponto, S. João Paulo II comenta sobre praticamente todo o capítulo 2 de Gênesis, mas o versículo chave é Gênesis 2,24: "Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne". Aqui se mostra em plenitude o plano original de Deus para o ser humano: existindo em sexos distintos (homem, mulher) o ser humano é chamado desde o princípio a uma união de amor, união em "uma só carne". Mas São João Paulo II traz à tona essa passagem do Gênesis através das palavras do próprio Jesus em Mateus 19, 3-9:
"Após esses discursos, Jesus deixou a Galiléia e veio para a Judéia, além do Jordão. Uma grande multidão o seguiu e ele curou seus doentes. Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer? Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu. Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la? Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim. Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério."
Aqui Jesus, no diálogo com os fariseus, chama a atenção dos seus ouvintes para a importância de relembrar o plano original de Deus para o amor entre homem e mulher, e esse plano é que está no centro das reflexões da Teologia do Corpo.
Na segunda seção, o tema passa a ser a queda de Adão e Eva e a consequente expulsão do Paraíso, e a análise de toda a condição humana após o pecado original. Nessa seção, que é a mais longa de toda a Teologia do Corpo, o foco se volta para o interior do ser humano. É no "coração" do ser humano (entendido aqui como o centro interior de nossa alma, de nossas decisões) que vai se mostrar presente o pecado, alterando o plano original de Deus. Após discutir sobre o pecado original e suas consequências, São João Paulo II reflete sobre a graça santificante de Cristo, e a proposta que Ele faz ao coração humano de viver a pureza. Por isso a passagem "chave" para toda essa seção vem do Sermão da Montanha, em Mateus 5, 27-28:
"Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração".
A esse chamado de Jesus em direção à pureza de coração, o ser humano deve responder vivendo uma vida renovada, "no Espírito", abandonando o pecado em seu coração e vivendo a graça de Deus. Essa seção é fundamental para a compreensão do estado atual do ser humano, pois todos nós vivemos nessa condição: herdamos as consequências do pecado original, mas nos abrimos para a graça santificante de Cristo. Nessa seção também é onde se podem traçar mais paralelos com os acontecimentos cotidianos que exigem nosso discernimento segundo uma correta moralidade.
Na terceira seção, São João Paulo II passa a falar de nosso futuro escatológico, ou seja, da Ressurreição e do "mundo que há de vir". A Igreja ensina que Jesus virá novamente para reunir todos os eleitos consigo no céu, e que ressuscitaremos assim como Ele ressuscitou. A passagem "chave" aqui vem de Marcos 12, 18-27:
"Ora, vieram ter com ele os saduceus, que afirmam não haver ressurreição, e perguntaram-lhe: Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se morrer o irmão de alguém, e deixar mulher sem filhos, seu irmão despo-se a viúva e suscite posteridade a seu irmão. Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou e morreu sem deixar descendência. Então o segundo desposou a viúva, e morreu sem deixar posteridade. Do mesmo modo o terceiro. E assim tomaram-na os sete, e não deixaram filhos. Por último, morreu também a mulher. Na ressurreição, a quem destes pertencerá a mulher? Pois os sete a tiveram por mulher. Jesus respondeu-lhes: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus. Na ressurreição dos mortos, os homens não tomarão mulheres, nem as mulheres, maridos, mas serão como os anjos nos céus. Mas quanto à ressurreição dos mortos, não lestes no livro de Moisés como Deus lhe falou da sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Êx 3, 6)? Ele não é Deus de mortos, senão de vivos. Portanto, estais muito errados."
Nesse trecho do Evangelho, Jesus explica como o período "futuro", do "mundo que há de vir", o novo paraíso após a Ressurreição, será uma experiência diferente da que temos aqui na terra, e onde não caberá mais a realidade do matrimônio como o entendemos aqui (eles não tomarão mulheres nem maridos), mas essa realidade temporal será suplantada por uma nova realidade onde estaremos junto a Deus, contemplando-o "face a face", e vivendo em seu amor, ou usando a expressão do Apocalipse, nas "núpcias do Cordeiro".
Também nessa seção sobre a ressurreição está incluída uma série de catequeses sobre o celibato como vocação e maneira de viver o chamado a uma vida plena de entrega de sua própria vida aos irmãos. Vale a pena ler a passagem que referencia essas reflexões, em Mateus 19, 10-12:
"Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar! Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda."
Na quarta seção, São João Paulo II volta-se para o tema do matrimônio, e passa a explicar e analisar esse sacramento, primeiramente em sua dimensão teológica. É uma reflexão que busca explicar a razão pela qual esse sacramento é tão importante. Busca analisar o seu significado mais profundo. Poderíamos até dizer, em sua dimensão mais "conceitual". Para isso, São João Paulo II chamou essa dimensão de "Dimensão da Aliança e da Graça". A passagem "chave" nesta seção vem de Efésios 5, 21-32:
"Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja - porque somos membros de seu corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2, 24). Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja."
Essa passagem é muito importante para entender o sentido mais profundo do matrimônio: o sentido esponsal. Ter um sentido ou significado esponsal quer dizer tomar como modelo a relação de amor entre Cristo e a Igreja, e fazer da relação matrimonial uma relação de doação: ser esponsal é ser capaz de dar amor, de entregar a si mesmo e a própria vida por amor.
Na quinta seção, São João Paulo II fala da dimensão dos sinais sacramentais que fazem o matrimônio. Essa "Dimensão do Sinal" é explicada a partir dos próprios ritos previstos para a cerimônia do matrimônio, mas também na percepção mais atenta de que também a união conjugal em si é também um sinal visível que compõe esse sacramento. Nessa seção se encontra também um comentário sobre o livro "Cântico dos Cânticos", da Bíblia, e uma reflexão sobre a história de Tobias, presente nos capítulos 6 a 8 do livro de Tobias. Destaca aqui apenas a oração com que Tobias e Sara iniciam sua vida conjugal, presente em Tobias 8, 4-10:
"Então Tobias encorajou a jovem com estas palavras: Levanta-te, Sara, e roguemos a Deus, hoje, amanhã e depois de amanhã. Estaremos unidos a Deus durante essas três noites. Depois da terceira noite consumaremos nossa união; porque somos filhos dos santos (patriarcas), e não nos devemos casar como os pagãos que não conhecem a Deus. Levantaram-se, pois, ambos, e oraram juntos fervorosamente para que lhes fosse conservada a vida. Tobias disse: Senhor Deus de nossos pais, bendigam-vos os céus, a terra, o mar, as fontes e os rios, com todas as criaturas que neles existem. Vós fizestes Adão do limo da terra, e destes-lhe Eva por companheira. Ora, vós sabeis, ó Senhor, que não é para satisfazer a minha paixão que recebo a minha prima como esposa, mas unicamente com o desejo de suscitar uma posteridade, pela qual o vosso nome seja eternamente bendito. E Sara acrescentou: Tende piedade de nós, Senhor; tende piedade de nós, e fazei que cheguemos juntos a uma ditosa velhice!"
Finalmente, a sexta e última seção da Teologia do Corpo é um comentário sobre a Encíclica Humanae Vitae, que versa sobre a vida humana e o relacionamento de homem e mulher no casamento. Essa Encíclica foi escrita pelo Papa Paulo VI em 1968, e ficou mais conhecida por reafirmar a perene doutrina da Igreja Católica de que meios de contracepção artificial não são moralmente corretos, por retirar do ato conjugal a dimensão procriativa. Para ser moralmente correto, todo ato conjugal deve preservar as suas duas dimensões: a dimensão unitiva e a dimensão procriativa. Nessa seção não há uma passagem bíblica específica, mas aqui São João Paulo II afirma que chegou ao ponto culminante, por assim dizer, de suas reflexões, e que todos os ensinamentos das seções anteriores são importantes para compreender uma posição moral que a Igreja continua sustentando, e que pela qual sofre muitas críticas, justamente por não ser bem compreendida. Minha opinião pessoal é que esse é um dos assuntos mais importantes para o mundo atual, podendo ser um ponto de partida para uma verdadeira renovação do panorama da vivência da sacramentalidade do matrimônio.
Se você tem dúvida sobre algumas dessas passagens, ou ficou querendo saber quais os comentários de São João Paulo II sobre elas, eu incentivo você a conhecer melhor a Teologia do Corpo. Esses ensinamentos estão mudando vidas ao redor do mundo. Fica então o convite para que você, ao ler e refletir sobre essas passagens bíblicas, possa se sentir motivado para iniciar seus estudos da Teologia do Corpo de uma forma mais profunda. Que Deus abençoe!
Um comentário:
Qu bom que o blog voltou às atividades! Paz e bem! :)
Postar um comentário
O envio de comentário constitui aceitação de publicação.
Todos os comentários passam por moderação.
Comentários podem ser rejeitados por decisão do blog.
Os comentários publicados não necessariamente expressam a opinião do blog.