domingo, 18 de janeiro de 2009

Teologia do Corpo – Espírito vs. Carne?

Por Dr. Marcellino D'Ambrosio

A espiritualidade trata das coisas da alma. O corpo e suas necessidades não importam. Na verdade, o corpo é a prisão da alma. A salvação é a libertação da alma do peso morto de seu corpo. Portanto, nesta vida, deve-se apenas resistir aos desejos, e até mesmo extinguí-los, se possível. Isso é tudo que tem a ver com a espiritualidade católica, não é verdade?

Não é bem assim. Esse tipo de espiritualidade foi promovida através dos séculos por um número de movimentos diferentes, gnósticos, maniqueístas, albigenses, todos com uma mesma coisa em comum – foram condenados pela Igreja Católica como heresias perigosas. Ao contrário dessas heresias, a Igreja Católica segue o capítulo 1 de Gênesis para ensinar que o mundo material e o corpo humano são obras-primas do amor criador de Deus. O corpo humano não é uma máquina que a alma pode trocar por outra quando não servir mais. Por isso a reencarnação não pode estar certa. Jesus não veio salvar almas, mas veio salvar seres humanos. Ele alimentou os corpos dos famintos e curou os corpos dos doentes ao mesmo tempo em que perdoava seus pecados e ensinava verdades sublimes. O fato é que acreditamos não só na imortalidade da alma, mas também na ressurreição da carne (do corpo).

Então os desejos do corpo por comida, bebida, sono e união sexual são fundamentalmente bons, não ruins. Uma das primeiras coisas que João Paulo II fez depois de eleito Papa foi desenvolver sua “teologia do corpo”.

Então o que quis dizer São Paulo quando diz que o espírito e a carne estão em oposição direta (Gal 5, 13-18)?

Boa questão. Quando Paulo está condenando “a carne”, ele não está falando do corpo humano criado por Deus. Ele, na verdade, está usando o termo “carne” como um símbolo para a distorção que o pecado original introduziu na natureza humana. A “carne” desorienta e distorce os desejos naturais de modo que os torna destrutivos e degradantes. A luxúria não é um outro nome para o desejo sexual. Luxúria é a distorção que a “carne” faz do desejo sexual, tornando-o um instrumento de auto-gratificação e exploração, mais do que um ato de amor comprometido e criador do milagre de uma nova vida, como quis Deus. O orgulho não é o desejo de grandeza e excelência. Tal desejo existe naturalmente em nós por sermos feitos à imagem e semelhança de Deus. O orgulho é quando a “carne” distorce esse desejo natural, causando falta de submissão à legítima autoridade, mesmo a Deus, exaltando a si mesmo à custa dos outros e procurando dominar e diminuir os outros.

A carne, antes da vinda do Espírito, tiranizava os seres humanos por dentro. A Lei de Moisés, os Dez Mandamentos, nos dizem que não devemos agir segundo esses desejos distorcidos, mas nossa força de vontade é muito fraca para vencer batalha após batalha. Abandonados somente à nossa própria força de vontade, provavelmente perderemos, e perderemos feio. Até mesmo Davi, o maior dos reis de Israel, sucumbiu à luxúria e depois tentou encobrir seu adultério com um assassinato.

A solução de Deus é radical. Quando estamos unidos a Jesus pela fé e pelo batismo, estamos cheios do Espírito Santo. O Espírito começa a cura de nossa natureza decaída por dentro, com o objetivo de transformar todas as áreas de nossa vida. A palavra “virtude”, na verdade, significa poder ou força, e o Espírito traz com ele “virtudes” que nos dão o poder necessário para vencer as batalhas contra a “carne”. Sim, a “carne” ainda está ali, mesmo depois de termos sido justificados pela fé em Cristo, e limpos com o sacramento do batismo. Mas sua coluna principal está quebrada. Ela não pode mais nos tiranizar, a não ser que escolhamos deixar que ela faça isso. Agora nós temos a liberdade e o poder de ignorar seus apelos em direção ao pecado, que devem ficar cada vez mais fracos, à medida que crescemos em santidade. A castidade é a virtude, dada pelo Espírito, que nos torna capazes de santificar o desejo sexual, fazendo dele um instrumento de amor e de vida. A humildade é a virtude que permite ao desejo de grandeza respeitar a soberania de Deus e a dignidade dos outros seres humanos.

Então a vida cristã não é se tornar escravo das regras e procurar reprimir os desejos humanos naturais. Ela é, na verdade, o crescimento no poder interior para se tornar verdadeiramente grande, verdadeiramente humano, e verdadeiramente livre.

Traduzido e adaptado do site: The Crossroads Iniciative

Link para o artigo: http://www.crossroadsinitiative.com/library_article/145/Theology_of_the_Body__Spirit_vs._Flesh.html