Por Christopher West
Continuamos nossa série comemorando o 40º aniversário de Humanae Vitae. O Papa Paulo VI lançou essa tão controversa encíclica em 25 de julho de 1968, reafirmando o ensinamento constante da Igreja sobre a imoralidade da contracepção. Até hoje ela permanece um “espinho na garganta” de muitos. Já foi um espinho entalado na minha garganta também. A “Teologia do Corpo”, de João Paulo II, me ajudou a tirar esse espinho e me mostrou a gloriosa fragrância da rosa.
No último artigo observamos que o intercurso conjugal com contracepção marca um determinado “fechar-se” do ato sexual ao Espírito Santo, ao “Senhor e doador da vida”. Nesse sentido, como se expressou João Paulo II, a contracepção falsifica a “linguagem do corpo”.
Todos sabemos que o corpo possui uma “linguagem”. Balançar a mão pode dizer “oi” ou ainda “tchau”. Levantar os ombros diz “eu não sei”. Um punho cerrado levantado indica raiva. O que o intercurso conjugal deve expressar? Qual sua verdadeira linguagem, seu verdadeiro significado?
De acordo com a Escritura, o relacionamento sexual deve expressar o amor divino. É precisamente aqui, na consumação de seu sacramento, que os esposos são chamados a participar no “grande mistério” do amor divino. Quer os esposos percebam isso ou não, esse é o poder sacramental do seu amor. Foi criado para ser uma imagem e uma participação real no amor de Cristo pela Igreja (veja Efésios 5, 31-32).
João Paulo II refere-se singelamente a isso: “Através dos gestos e reações, através de todo o... dinamismo de tensão e prazer – cuja fonte direta é o corpo em sua masculinidade e feminilidade, o corpo em suas ações e interações – através de tudo isso o homem, a pessoa, ‘fala’... precisamente no nível dessa ‘linguagem do corpo’... é que o homem e a mulher reciprocamente expressam-se no modo mais completo e profundo que é possível para eles... sua masculinidade e feminilidade” (TOB 123:4).
Mas se o amor sexual deve expressar o amor de Cristo, devemos entender corretamente a “linguagem” desse amor. Cristo entregou seu corpo livremente (“Ninguém tira a vida de mim, eu a dou de minha vontade”, João 10, 18). Ele entregou seu corpo totalmente – sem reservas, condições, ou intenções egoístas (“Ele os amou até o fim”, João 13, 1). Ele entregou seu corpo fielmente (“Estarei sempre com vocês”, Mt 28, 20). E a entrega do seu corpo foi frutuosa (“Eu vim para que todos tenham vida”, Jo 10, 10).
Se homem e mulher querem evitar as armadilhas do falso amor, sua união tem que expressar o mesmo amor livre, total, fiel, e frutuoso que Cristo expressou. É claro que, como seres humanos decaídos, nunca expressaremos o amor de Cristo perfeitamente. Mesmo assim, devemos comprometer toda nossa vida na tarefa de aprender a como expressar esse amor, e ao menos nunca agir deliberadamente contra esse amor. O nome desse compromisso é matrimônio.
Isto é precisamente o que noivo e noiva prometem no altar. O padre ou diácono pergunta: “Vocês vieram aqui livremente e sem reservas, para se entregar um ao outro no casamento? Vocês prometem ser fiéis até a morte? Vocês prometem receber as crianças que Deus lhes confiar?”. O noivo e a noiva respondem: “Sim”.
Portanto, os esposos devem expressar esse mesmo “sim” na “linguagem de seus corpos” sempre que se tornam uma só carne. “Na verdade, as próprias palavras, ‘Eu te recebo como minha esposa / como meu marido’”, diz João Paulo II, “só podem ser concretizadas pelo intercurso conjugal”. Com a relação conjugal “passamos para a realidade aquilo que corresponde àquelas palavras” (TOB 103:3).
O intercurso, então, é quando as palavras dos votos matrimoniais se tornam carne. É quando o homem e a mulher devem encarnar o amor divino. É muito bom quando um casal retorna para a Igreja para renovar seus votos matrimoniais em um aniversário especial de casamento, mas isso não deve desvalorizar o fato de que toda vez que um marido e uma mulher têm um intercurso conjugal espera-se que eles estejam renovando seus votos matrimoniais com a “linguagem de seus corpos”.
Quão saudável seria um casamento se os esposos fossem regularmente infiéis a seus votos? Por outro lado, quão saudável seria um casamento se os esposos regularmente renovassem seus votos com um compromisso crescente a eles? Se você prefere este último tipo de casamento, você acabou de aceitar o ensinamento de Humanae Vitae. No próximo artigo, vou explicar por que.
Fonte: Christopher West site – Teology of the body
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