"Quando se decidir firmemente a viver uma vida pura, a castidade não será um peso para você. Será uma coroa de triunfo”. São Josemaria Escrivá
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Amor e responsabilidade
Por Karol Wojtyla
Talvez em nenhum lugar mais do que nesta parte do livro o seu título “Amor e responsabilidade" pareça tão atual. Há no amor uma responsabilidade, assumida com a pessoa que se atrai à estreita comunhão do ser e do agir e que, por causa da sua entrega, passa a ser de algum modo a nossa propriedade. E por isso também se assume uma responsabilidade pelo próprio amor: será ele bastante maduro e profundo para, nos seus limites, não desiludir a enorme confiança da outra pessoa, nem a esperança renascida do seu amor de que se entregando não perderá a sua “alma”, mas ao contrário encontrará uma maior plenitude da sua existência ou tudo isso virá a ser uma mera decepção?
A responsabilidade pelo amor se reduz, como se vê, à responsabilidade pela pessoa; dela emana e para ela também retorna. Precisamente por isso esta responsabilidade é imensa. Mas só pode compreendê-la aquele que possui a plena consciência do valor da pessoa. Aquele que só é capaz de reagir aos valores sexuais vinculados à pessoa e nela salientados, mas não vê o valor da mesma pessoa, confundirá continuamente o amor com o erotismo, e complicará a sua vida e a dos outros, pervertendo para si e para os outros o próprio sentido do amor, o seu “gosto” essencial. Aquele “gosto” essencial do amor está ligado na realidade, ao sentido de responsabilidade pela pessoa. Neste sentido, afinal, se oculta a preocupação pelo bem verdadeiro da pessoa – quintessência de todo altruísta, e ao mesmo tempo um sinal infalível de um certo alargamento do próprio “eu”, da própria existência – por este “outro eu” e por esta outra existência, que é para mim tão próxima como a minha própria. O sentido da responsabilidade pela outra pessoa costuma estar cheio de preocupações, mas não é nunca em si mesmo triste ou doloroso. De fato, nele desabrocha não o estreitamento ou o empobrecimento do ser humano, mas precisamente o seu enriquecimento e alargamento. Por isso, também o amor isolado do sentido da responsabilidade pela pessoa é uma negação de si mesmo, é sempre e por via de regra egoísmo. Quanto maior é o sentido de responsabilidade pela pessoa tanto maior será o verdadeiro amor.
(...)
O verdadeiro amor, o amor intrinsecamente pleno, é aquele em que escolhemos a pessoa por ela mesma, não só como o parceiro da vida sexual, mas a pessoa à qual se deseja entregar a vida. Os valores sexuais, vibrantes na vivência sensitiva e afetiva, acompanham esta decisão; eles contribuem para a sua nitidez psicológica, mas não constituem a sua profundidade. O “âmago” da escolha de uma pessoa deve ser pessoal, e não somente sensual. A vida verificará o valor da escolha, assim como o valor e a verdadeira grandeza do amor. O amor é testado ao máximo quando se enfraquece a vivência afetivo-sensual, quando os valores sexuais cessam em certo modo de atuar. Então ficará só o valor da pessoa e aparecerá a verdade intrínseca do amor. Se este amor foi uma verdadeira entrega e pertença de pessoas, então não só resistirá, mas até se fortalecerá e aprofundará. Se, porém, ele foi uma sincronização da sensualidade e da emoção, então perderá sua razão de ser e as pessoas engajadas nele ficarão de repente no vazio. É preciso levar seriamente em conta que todo amor humano deve passar por uma prova e que só então se manifestará o seu verdadeiro valor.
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Trecho do livro “Amor e Responsabilidade”, do então Cardeal Karol Wojtyla, depois Papa João Paulo II. Págs 113-117.
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