Por Daniel Pinheiro
01/04/2010
"Derramou água numa bacia, pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à cintura." (Jo 13, 5)
Nesta Quinta-feira celebramos a noite em que Jesus lavou os pés dos discípulos, instituiu a Eucaristia e o sacerdócio, e foi entregue pela traição de Judas Iscariotes. O gesto talvez que caracteriza essa noite, por ser próprio dela, é a cerimônia conhecida como "lava-pés". Em cada paróquia ou catedral, o sacerdote ou bispo despoja-se de suas vestes sacerdotais, toma jarro e bacia, e põe-se a lavar os pés de alguns "discípulos" escolhidos.
João Paulo II, em sua Teologia do Corpo, ao falar sobre o "sinal" matrimonial, que caracteriza o sacramento, fala de dois momentos. Inicialmente os votos matrimoniais, realizados na Igreja, diante de toda comunidade. Através deles, os noivos se administram mutuamente o sacramento, prometendo fidelidade e amor.
"Eu te recebo... e te prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te todos os dias da minha vida".
Antes os noivos já tinham confirmado que era livremente que contraím matrimônio. "É de livre e espontânea vontade que o fazeis?". "Sim". Tinham também prometido cuidar dos filhos que Deus lhes confiasse.
Assim, os agora casados acabaram de selar uma aliança livre, total (sem reservas), fiel e fecunda.
Porém, no segundo aspecto, toda essa liturgia de sinais se tornará, na intimidade do casal, pode-se dizer em certo sentido, "Liturgia do Corpo".
"A 'linguagem do corpo' relida tanto na dimensão subjetiva da verdade dos corações humanos, quanto na dimensão objetiva da verdade da vida em comunhão, se torna a linguagem da liturgia". (Audiência de 27/06/1984)
Observando hoje como o celebrante lavou os pés de 12 homens na Missa da Santa Ceia, pude constatar: como seu corpo falou uma linguagem! Imagine o sentimento daqueles homens. Se o coração deles era sincero, não pôde deixar de se sentir movido pelo gesto do celebrante lavando seus pés. Ele se ajoelhou, derramou água, enxugou seus pés. Seria preciso muitas palavras para fazer com que este homem sentisse o que sentiu ao ser alvo desse gesto do celebrante. Ali, a linguagem do amor falou, a linguagem do seu corpo, de seus atos, de seus gestos.
Do mesmo modo, na noite de núpcias, e a cada vez que marido e mulher se unem em uma só carne, é a linguagem de seus corpos que tem que falar a verdade. Se a linguagem dos seus corpos falar somente a linguagem da concupiscência, da ética utilitarista, do "usar" o corpo do outro, então serão "profetas" não do amor, mas do egoísmo. Por outro lado, se o casal experimenta e expressa nesse momento a linguagem do amor verdadeiro, aquele que é doação, que é entrega, que é total, que é fecundo, que é livre, e que é fiel, então seus corpos falarão (um para o outro) uma linguagem belíssima, que dificilmente poderia ser expressa em palavras. Em certo sentido, isso também é liturgia, pois estão cumprindo o mandamento de Deus: "Amai-vos uns aos outros" (Jo 13, 34), no contexto de um sacramento, um sinal visível da presença do Deus invisível.
Nosso corpo fala, nossos gestos falam. Que a linguagem do nosso corpo possa ser relida sempre na verdade, e nunca na falsidade.
"Podemos dizer que o elemento essencial do matrimônio enquanto sacramento é a "linguagem do corpo" relida na verdade. É precisamente através disso que o sinal sacramental é constituído" (João Paulo II, audiência de 12/01/1983).
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