domingo, 4 de abril de 2010

A "cultura" da sexualidade invertida

Por Patrick Fagan

A enorme desordem social e psicológica que vemos ao nosso redor não é invenção da “comunidade gay”. Nossos problemas atuais – incluindo mesmo o próprio movimento de “direitos gays” – surgiram como resultado de desordens que se tornaram predominantes primeiramente entre os heterossexuais.
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É impossível olhar para as mudanças em nossa cultura ao longo das últimas décadas, sem perceber o alcance das mudanças introduzidas pelos novos costumes sexuais. A tese deste ensaio é que a força do atual movimento homossexual e de outros movimentos radicais está enraizada nessas mudanças.

As grandes mudanças no pensamento sobre a natureza do ato sexual tiveram início na última parte do século 19, e ganharam força no início do século 20, conseguindo um avanço significativo em 1930, com a quebra da unidade na tradição religiosa-moral cristã sobre a natureza do ato sexual.

No final dos anos 1940 um número crescente de casais americanos já usava contracepção. Na década de 1960 os filhos desses casais se tornaram os líderes da revolução sexual, rejeitando a necessidade do contexto do casamento para o ato sexual – uma rejeição logicamente baseada em suas próprias experiências. Na década de 1970 a geração seguinte consagrou “o direito de escolha reprodutiva para a mulher”, ou seja, o aborto, passando a ser juridicamente possível se livrar do fruto natural do ato sexual. Uma geração mais tarde, na década de 1990, vimos o surgimento dos movimentos pró-homossexuais.

Todos estes graduais “passos para Gomorra” são um subproduto natural da ruptura entre o ato sexual e a finalidade primeira e função natural fundamental desse ato: a procriação dos filhos. Essa ruptura mudou o foco do ato sexual, e ao fazê-lo mudou os adultos que assim agem, tanto em suas próprias disposições psicológicas quanto em suas relações interpessoais. Os costumes sexuais deixaram de ser “centrados no outro”, para se tornarem “centrados em mim”; ao invés de extroversão, as relações sexuais moveram-se em direção à introversão; passaram de “hetero-centradas” para “auto-centradas”.

Se se corta da natureza do ato sexual a possibilidade da reprodução, então fica difícil negar o “direito” de praticar atividades sexuais legalmente permitidas caracterizadas por sempre excluir a possibilidade de gerar um filho (como as atividades homossexuais e outras). Se os homossexuais alegam ainda que estão privados de um direito igual para a busca do prazer – o que eles dizem não poder obter em atos heterossexuais – seu argumento ganha ainda mais força. Conseqüentemente, muitas igrejas e órgãos do governo começaram a concluir que homossexuais têm “direito” a ter suas uniões sancionadas: o dito “casamento” entre pessoas do mesmo sexo. Sob o prisma dos costumes sexuais distorcidos que agora dominam a nossa cultura, é difícil negar o poder de persuasão de seu argumento.

A nova inversão sexual

A contracepção mudou radicalmente a função social do ato sexual; não se pode negar. E essa mudança na função social tem mudado a maneira como pensamos a nossa sexualidade, o que por sua vez, muda toda a sociedade. Os dados sociais sobre a cultura heterossexual são agora maciçamente perturbadores.

A afirmação fundamental deste ensaio é que os heterossexuais americanos estão agora mostrando os sintomas de uma doença que está relacionada com (e que é ainda mais perigosa do que) a estrutura psicológica interior da orientação homossexual.

Uma descrição psicanalítica amplamente utilizada da homossexualidade como um fenômeno psicológico diz:

“A homossexualidade é considerada um dos sistemas desenvolvidos pelos indivíduos para organizar experiências e expressões de sentimentos conflitantes e dolorosos, e o sistema atua como uma contenção das ansiedades mais profundas, e oferece ao indivíduo um ‘modus vivendi’. O sistema não é apenas a escolha de um objeto, mas uma maneira ampla de se relacionar, é parte do desenvolvimento do caráter da pessoa, e muito mais complexa do que a noção de ser parte da escolha de objeto. É importante distinguir a identidade homossexual e o comportamento homossexual. A presença da homossexualidade, se conflitante ou reprimida, poderia dar origem a sintomas como ansiedade, inibição social, ou disfunções sexuais como impotência ou a frigidez.”

Esta definição poderia ser reformulada para descrever a maioria dos casais nos Estados Unidos hoje, bem como uma grande proporção de indivíduos solteiros heterossexuais. Assim:

“A contracepção pode ser considerada como um dos sistemas desenvolvidos pelos indivíduos para organizar experiências e expressões de sentimentos e desejos conflitantes. O sistema [anticoncepcional] serve como contenção das ansiedades mais profundas, e oferece ao indivíduo um ‘modus vivendi’. O sistema não é uma escolha de objeto, [a escolha de um ser amado], mas é uma maneira ampla de se relacionar, e é parte do desenvolvimento do caráter de uma pessoa. É importante distinguir entre a identidade heterossexual e essa forma de comportamento heterossexual. A presença da heterossexualidade, se conflitante ou reprimida, como ocorre no caso da contracepção habitual, pode dar origem a sintomas como ansiedade, inibições conjugais, disfunção sexual, divórcio, rejeição das crianças, e aborto.”

No conflito psicológico vividos por homossexuais, a ameaça à integridade do ego decorre das demandas de intimidade com um membro do sexo oposto. No conflito causado pela contracepção a ameaça ao ego deriva da atenção íntima exigida por uma criança.

Ismond Rosen, um conhecido terapeuta britânico especializado em disfunções e desvios sexuais, e editor do “Livro Oxford de Desvios Sexuais”, afirma:

“Segundo a minha observação, o estilo de vida homossexual é aprendido, e se isto for incorporado como parte do sentido individual de identidade ou ‘self’, as chances da pessoa mudar para uma orientação heterossexual tornam-se muito mais distantes, devido à resistência inconsciente despertada pela ameaça de uma perda real de identidade ou senso de si mesmo.”

Estas percepções sobre o desenvolvimento da orientação homossexual também podem ser transpostas para a orientação contraceptiva, sendo reconstruídas da seguinte forma:

“O estilo de vida contraceptivo é aprendido (agora há uma gigantesca infra-estrutura educacional e médica dedicada a esse fim), e quando se incorpora como parte do senso da identidade sexual do indivíduo e de sua prática habitual, as chances de que a pessoa mude para uma “doação de si mesmo” tornam-se muito mais distantes, devido à ansiedade provocada pelo medo ou ameaça de perda de si mesmo no sacrifício envolvido em trazer uma criança à existência.”

Mudanças ao longo da história

A prática da contracepção se difundiu dramaticamente durante a última parte do século 20. Passou de rara a generalizada – na verdade, habitual. E a esterilização tornou-se uma forma cada vez mais popular de controle da natalidade, especialmente para os pais que já tiveram um ou mais filhos.

O “lobby” da educação sexual – que engloba a maioria das grandes fundações sem fins lucrativos do nosso país, seus correspondentes na educação e na ciência social nas universidades, e seus aliados nas profissões médicas e de enfermagem – colocou enormes recursos no esforço para mudar a forma como os jovens pensam a natureza do ato sexual. Fizeram incursões maciças na cultura comum.


Dada a prevalência da contracepção e a fácil disponibilidade de aborto, seria de se esperar que a proporção de nascimentos fora do casamento para as jovens americanas tivesse declinado durante a geração passada. Na realidade o que aconteceu foi completamente o oposto. Entre as mulheres americanas com idade inferior a 20 anos que deram à luz a cada ano, a proporção das que eram casadas quando a criança nasceu diminuiu de forma constante, de cerca de 90 por cento em 1950 para menos de 30 por cento em 1990. Não há nenhuma razão para esperar qualquer mudança nesta tendência.

O índice de rejeição

A mudança mais fundamental na sociedade resultante desta mudança radical na nossa maneira de encarar o ato sexual tem sido o surgimento de uma cultura de rejeição: um lugar cada vez mais hostil para as crianças viverem. A tendência para nascimentos fora do casamento, agravada pela divórcios, que deixam as crianças sem mãe casada e sem pai morando em casa, resultou em um aumento constante no número de crianças que vivem em lares desfeitos.

Os efeitos destas alterações são indubitavelmente negativos. Viver em um lar desfeito, para a criança, aumenta seu risco de:

* Problemas de saúde física;
* Retardo cognitivo, especialmente no desenvolvimento verbal;
* Menor grau de escolaridade;
* Aumento dos problemas comportamentais;
* Envolver-se em abuso de cônjuge ou filho;
* Envolver-se em crime e
* Ser fisicamente ou sexualmente abusada.

Com os lares desfeitos se tornando cada dia mais numerosos os resultados são ainda mais devastadores. O sociólogo Charles Murray determinou que, quando a proporção de lares desfeitos na população local atinge o nível de cerca de 30 por cento, a comunidade se torna uma fonte de riscos adicionais, ao invés de apoio para a criança e a família. Muitos bairros urbanos passaram desse nível estatístico há muito tempo; agora o país (EUA) inteiro tem beirado esse mesmo ponto estatístico perigoso.

Entre as famílias da classe trabalhadora dos Estados Unidos, as tendências são nefastas. Mas entre aqueles que vivem na parte inferior da escada sócio-econômica, o conjunto familiar estável praticamente desapareceu. Junto com esse desaparecimento há uma tendência crescente em relação ao abuso infantil.

Estatísticas do governo Federal confirmam que a incidência de abuso infantil está intimamente relacionada com a situação econômica da família. Mas seria um erro classificar o abuso de crianças simplesmente como um problema que aflige as famílias empobrecidas. Há uma correlação igualmente forte entre a incidência de abuso e a situação conjugal dos pais.

Um estudo britânico lança ainda mais luz sobre a relação entre estrutura familiar e abuso infantil, mostrando que o abuso das crianças é relativamente raro em famílias onde os pais naturais da criança continuam a viver juntos, mas cada vez mais provável em famílias onde a mãe voltou a casar, ou vive sozinha, ou onde os pais nunca se casaram, ou onde a criança vive com um pai solteiro, e – o mais perigoso de todos – onde a mãe vive com outro homem que não é nem o marido nem pai natural da criança.

A ligação entre aborto e contracepção

A rejeição definitiva de crianças, evidentemente, é o aborto. “É evidente que nada além dos contraceptivos pode pôr fim aos horrores do aborto e do infanticídio”, disse Margaret Sanger, expressando uma linha que tem sido repetida – ainda hoje – por muitos outros. Mas a crescente popularidade e disponibilidade de contraceptivos não reduziu o número de abortos, e hoje a maioria dos abortos ocorre fora do casamento, isto é, entre aqueles que mais radicalmente reivindicam o direito ao ato sexual “invertido”.

Um livreto distribuído pela “National Abortion Rights Action League” (antes de seu nome ser mudado para “National Abortion and Reproductive Rights Action League”) mostra como os defensores do planejamento familiar mudaram a sua perspectiva sobre a relação entre a contracepção e o aborto, desde os tempos de Margaret Sanger:

“É claro que os contraceptivos devem ser disponibilizados e promovidos mais amplamente, no entanto, no estado atual da tecnologia contraceptiva, e dada a possibilidade de erro humano mesmo na utilização dos melhores métodos, o aborto é necessário como uma proteção; a sua utilização não é preferível à contracepção, mas uma vez que a gravidez ocorre, é o único meio de prevenção da natalidade”.

O aborto agora ocupa apenas mais um lugar em um “continuum” de práticas, todas elas destinadas a impedir o nascimento. O objetivo final do planejamento familiar, o esforço a ser alcançado por todos os meios necessários, é separar o ato sexual da perspectiva de produzir filhos.


Relacionamentos alterados

Uma vez que nós, como sociedade, eliminamos do entendimento popular sobre o ato sexual a possibilidade de gerar uma criança, alteramos com isso a nossa noção do papel que o sexo tem dentro do casamento. Essa alteração levou naturalmente a outra, e o “trabalho” concluiu-se na década de 1960 pelos filhos dos primeiros casamentos “alterados”: a quebra do pressuposto de que a atividade sexual deve se limitar ao casamento. E então, depois de ter eliminado primeiro a perspectiva de que a atividade sexual poderia envolver a reprodução, e depois tendo eliminado o pressuposto de que a atividade sexual era uma prerrogativa do casamento, a nossa sociedade em seguida percebeu uma necessidade de eliminar mais um obstáculo, arranjando um dispositivo para, legalmente, “livrar-se” de uma criança inconvenientemente concebida, dentro ou fora do casamento. Este foi o trabalho da década de 1970. Finalmente, depois de ter eliminado da compreensão popular da sexualidade tanto a perspectiva da reprodução quanto a necessidade de um compromisso conjugal, a nossa sociedade começou a perceber as relações homossexuais como apenas mais um conjunto de variações da nova maneira de ver a atividade sexual, agora “voltada somente para o próprio prazer”.

Observe, a propósito, que todos os transtornos sociais e psicológicos descritos acima – os lares desfeitos, o abuso de crianças, e assim por diante – estão presentes na “cultura heterossexual”. Embora seja verdade que a “subcultura gay” mostra níveis ainda mais altos de disfunção em questões semelhantes, a cultura da inversão sexual não se limita à homossexualidade. Entre os heterossexuais, também, a transformação da atividade sexual em um processo “somente para o próprio prazer”, sustentada por uma atmosfera de ausência de qualquer compromisso para com crianças ou para com o cônjuge, produziu resultados sociais e psicológicos desastrosos.

Em uma sociedade tradicional os adultos assumem encargos sociais e aceitam os golpes da vida, protegendo assim os seus filhos, para que eles possam crescer num ambiente seguro e tranqüilo. Hoje são os filhos da nossa nação que carregam o fardo – muitas vezes, por viver na insegurança de um lar desfeito – enquanto os pais buscam seus próprios fins. De fato, a carga psicológica sobre as novas gerações muitas vezes pode ser atribuída precisamente à falta de vontade de seus pais e / ou sua incapacidade em fazer cumprir o compromisso conjugal para a vida toda, o que antes era uma condição prévia para a atividade sexual sancionada.

As crianças – a nova geração – são a principal razão para a família. Mas se nem passa pela cabeça do jovem casal a consideração para com as crianças, a situação está irremediavelmente mudada: “As pessoas não vivem juntas apenas para estar juntas. Elas vivem juntas para fazer algo juntas”, escreveu Ortega y Gasset. Ele continuou: “Nenhum grupo social sobreviverá por muito tempo sem sua principal razão de ser.” A América do Norte e a Europa Ocidental, com suas taxas de crescimento populacional negativas, em breve serão forçadas a entrar de acordo com as observações de Ortega y Gasset e de Roosevelt. Pode ainda sobreviver uma cultura que não se reproduz, e não protege as crianças?

Baixando os padrões de moralidade

Uma das funções públicas da religião é fortalecer a adesão da sociedade à lei moral natural. Quando a instituição da religião relativiza uma questão moral, não se pode esperar que as outras instituições (família, educação, governo e mercado) mantenham as “defesas” da sociedade. Quando as instituições da religião “definem em padrões mais baixos" o que é desvio e o que não é, outras instituições provavelmente seguirão o mesmo padrão. E é isso o que tem acontecido na questão da contracepção.

O movimento de planejamento familiar, o veículo para o avanço da contracepção, tinha sua posição clara não só fora do cristianismo, mas entre grupos que eram ativamente hostis ao Cristianismo. O ataque sobre os princípios morais tradicionais defendidos pela tradição judaico-cristã já estava bem avançado no início do século 20. Ao mesmo tempo, o movimento de controle da natalidade havia reconhecido a necessidade de conseguir algum tipo de sanção religiosa – e tinha até escolhido um alvo primário para os seus esforços de lobby. Em 1919, a Anglicana C.K. Millard escreveu no “The Modern Churchman”:

“Embora muitos malthusianos sejam racionalistas, eles estão bem conscientes de que sem alguma espécie de aprovação religiosa sua política jamais poderá emergir do submundo obscuro das coisas não mencionadas e desrespeitadas, e nunca poderia ser defendida abertamente, à luz do dia. Para este fim o controle da natalidade é camuflado em uma fraseologia pseudo-poética e pseudo-religiosa, e pede-se à Igreja Anglicana que altere os seus ensinamentos. Adeptos do controle de natalidade percebem que é inútil pedir isso à Igreja Católica, mas no que respeita à Igreja da Inglaterra, que não tem qualquer pretensão de infalibilidade, o caso é diferente, e o debate é possível.”

Se uma única data pode ser identificada como o marco da ruptura histórica do consenso cristão acerca dos princípios tradicionais da moralidade sexual, baseados na lei natural – se alguém quiser destacar o primeiro passo oficial do Ocidente em direção ao abismo escorregadio – então a data 15 de agosto de 1930 deve ser escolhida como essa data infeliz. Esse foi o dia em que a Conferência de Lambeth da Igreja da Inglaterra, por uma votação de 193 a 67, aprovou uma resolução que dizia, em uma de suas partes:

“Onde houver uma obrigação moral claramente percebida para se limitar ou evitar a paternidade, o método deverá ser decidido com base nos princípios cristãos. O método primário e óbvio é a abstinência completa de relações sexuais (tanto quanto for necessário), em uma vida de discipulado e de auto-controle, no poder do Espírito Santo. No entanto, nos casos em que há essa obrigação moral claramente percebida para limitar ou evitar a paternidade, e onde existe uma razão moralmente forte para evitar a abstinência completa, a Conferência concorda que outros métodos podem ser utilizados, desde que isso seja feito à luz dos mesmos princípios cristãos. A Conferência relembra a sua firme condenação do uso de qualquer método de controle de concepção por motivos de egoísmo, de luxúria, ou de mera conveniência”.

Com essa votação, a unidade moral tradicional da cristandade sobre este assunto foi quebrada.

Nos anos anteriores – nas Conferências de Lambeth de 1908,1914 e 1920 – os líderes da Igreja Anglicana sentiram a pressão para uma mudança no ensino da moral tradicional. Mas eles tinham respondido a essa pressão reiterando sua posição tradicional.

“Lançamos um enfático alerta contra o uso de meios não naturais para evitar a concepção, juntamente com os graves perigos – físicos, morais e religiosos – assim decorrentes, e contra os males com os quais a expansão de tal uso ameaça a raça humana. Em oposição ao ensino que, em nome da ciência e da religião, incentiva as pessoas casadas no cultivo deliberado da união sexual como um fim em si mesmo, nós defendemos firmemente aquilo que deve ser sempre considerado como a razão principal do matrimônio cristão. Uma é o objetivo principal pelo qual o casamento existe – qual seja, a continuação da raça através do dom e da procriação dos filhos –, a outra é a importância fundamental na vida de um auto-controle deliberado e consciente."

Debates semelhantes estavam em curso em muitas outras denominações religiosas. Os judeus ortodoxos continuaram com a norma moral tradicional, mas judeus reformados já tinham se afastado do antigo consenso. A Conferência Central dos Rabinos Americanos tinha tomado uma posição em favor de contracepção em 1929.

O Conselho Federal de Igrejas dos Estados Unidos (que hoje é conhecido como o Conselho Nacional de Igrejas), aparentemente estava à espera de algum outro grupo para assumir a liderança na “modernização” dos padrões cristãos sobre controle de natalidade. Em março de 1931, esse conselho seguiu a Conferência de Lambeth e aprovou “o uso cuidadoso e restrito de contraceptivos por pessoas casadas”, enquanto ao mesmo tempo ainda admitia que “graves males, como as relações sexuais extraconjugais, podem ser aumentados pelo uso geral de contraceptivos.”

No entanto, as afirmações lançadas após a declaração de Lambeth por grupos de líderes de outras igrejas cristãs, e até mesmo pela mídia secular, ilustram vividamente quão diferente as igrejas viam o ato sexual naqueles dias. Rapidamente, ainda com as declarações recentemente feitas por parte da Igreja Anglicana e do Conselho de Igrejas, seguiram-se declarações radicalmente diferentes:

Dr. Walter Maier, do Seminário Teológico Luterano Concórdia:

“O controle de natalidade, como popularmente é entendido hoje, envolvendo o uso de contraceptivos, é uma das aberrações modernas mais repugnantes, representando uma renovação da decadência pagã em pleno século 20”

Bispo Chandler Warren, da Igreja Metodista Episcopal do Sul:

“Todo o nojento movimento [de controle de natalidade] se baseia na suposição de igualdade do homem com os animais .... A declaração [do Conselho Federal de Igrejas] sobre a questão do controle de natalidade não tem autorização de nenhuma das igrejas que o representam, e o que foi dito eu considero extremamente lamentável, para não usar palavras mais fortes. Esta declaração certamente não representa a Igreja Metodista, e duvido que represente qualquer outra igreja protestante naquilo que foi dito sobre este assunto.”

Igreja Presbiteriana (2 de abril de 1931):

“O pronunciamento recente [do Conselho Federal de Igrejas] sobre controle de natalidade deve ser razão suficiente, se não houver outra, para retirar nosso apoio àquele organismo, que alega falar em nome da igrejas Presbiteriana e de outras igrejas protestantes em pronunciamentos “ex cathedra.”

A Convenção Batista do Sul:

“ Nossa Convenção exprime a sua desaprovação acerca ... do projeto de lei, atualmente pendente perante o Congresso dos Estados Unidos, cujo objetivo é viabilizar e assegurar a divulgação de informações sobre métodos anticoncepcionais e controle da natalidade; seja qual for a intenção e motivo de tal proposta, não podemos senão acreditar que tal legislação será degradante em seu caráter e irá provar ser muito prejudicial para a moral de nossa nação.”

Mesmo jornalistas seculares ficaram chocados com os novos ensinamentos provenientes de alguns órgãos de algumas igrejas protestantes. O Washington Post reagiu à declaração do Conselho Federal de Igrejas, com um editorial veemente, argumentando:

“Se for levado às suas conseqüências lógicas, o relatório da comissão, se levado a efeito, será a sentença de morte do casamento enquanto instituição sagrada, devido ao estabelecimento de práticas degradantes que visam promover a imoralidade indiscriminada. A sugestão de que o uso de contraceptivos legalizados poderia ser ‘cuidadosa e contida’ é absurda”.

Dois dias depois, relutante em deixar de lado o assunto, o Post acrescentou uma outra porção de desprezo editorial:

“É a desgraça das igrejas que elas sejam muitas vezes mal utilizadas por visionários para a promoção de ‘reformas’ em campos estranhos à religião. O afastamento dos ensinamentos cristãos da normalidade é surpreendente em muitos casos, deixando o espectador horrorizado com a má vontade de algumas igrejas em ensinar 'Cristo, e Cristo crucificado'. Se as igrejas estão se tornando organizações de propaganda política e científica, elas deveriam ser honestas e rejeitar a Bíblia, zombar de Cristo considerando-o como um professor obsoleto e anti-científico, e se apresentar corajosamente como líderes da política e da ciência, e como substitutos da religião dos velhos tempos.”

Não foi surpresa que a Igreja Católica tivesse continuado firme em sua condenação da contracepção. Várias semanas depois da declaração revolucionária da Conferência de Lambeth, o Papa Pio XI explicou na Encíclica Casti Connubi:

“Para que ela [a Igreja Católica] possa preservar a castidade da união conjugal da contaminação dessa mancha suja, ela levanta sua voz como embaixadora divina e através de nossa boca proclama de novo: qualquer uso do matrimônio exercido de uma maneira tal que o ato seja deliberadamente frustrado em seu poder natural de gerar a vida é uma ofensa contra a lei de Deus e da natureza, e aqueles que se entregam a tais atos são marcados com a culpa de um pecado grave.”

Embora a posição doutrinária da Igreja Católica continue a ser clara, e tenha sido freqüentemente reiterada por Roma, a resposta da maioria dos católicos nos Estados Unidos foi, na melhor das hipóteses, o silêncio; a prática de casais católicos é semelhante ao da maioria dos americanos. O estudo mais abrangente sobre os hábitos de controle de natalidade dos norte-americanos foi a Pesquisa Nacional de Crescimento Familiar de 1988, que também coletou dados sobre a filiação religiosa dos entrevistados. Em 1988, 72 por cento de todas as mulheres católicas casadas em idade fértil utilizavam contracepção artificial. Dessas, 55 por cento disseram que contavam com a pílula anticoncepcional, 22 por cento com laqueadura tubária, 12 por cento com vasectomia e 11 por cento com outros métodos.

Consequências da contracepção

A mudança nas atitudes em relação à contracepção envolveu uma mudança no entendimento do homem sobre seu relacionamento com Deus, com o sexo oposto, e consigo mesmo.

Tanto quanto a razão pode saber, o maior ato criativo de Deus é a criação do homem. No ato sexual, o Criador faz do ser humano seu “co-criador”, pois homem e Deus se juntam quando um outro ser humano é trazido à existência, para viver por toda a eternidade. Na tradição ortodoxa judaica, o ato sexual é convincentemente comparado com a entrada no Santo dos Santos no Templo de Deus – encontrar Deus onde ele está especialmente presente.

Para a pessoa casada que usa resolutamente de contracepção, e que vai louvar a Deus no Sábado, sua posição diante de Deus é invadida por uma contradição intrínseca. Na verdade, ela diz: “Eu adoro você como meu Criador, mas eu me recuso a participar convosco como co-criador nos atos mais importantes... trazer para a existência aquele próximo ser humano que Vós pretendeis dotar de existência por toda a eternidade”. A contradição é profunda, assim como são as conseqüências.

A prática da contracepção afasta o homem de seus fundamentos ontológicos e psicológicos. O ato sexual, enquanto estiver aberto à vida, tem o efeito de manter o ser humano, no mínimo, orientado para “o outro”. Sem esse mínimo, o homem tende a transformar o ato em algo “somente para o próprio prazer”. O mais prazeroso dos atos é transformado de “centrado no outro”, para “centrado em si mesmo”. O rearranjo das atitudes e disposições psicológicas produz rapidamente uma mudança nas relações com o cônjuge, com os membros do sexo oposto, e com os filhos. Os resultados – tão claros nas estatísticas – incluem o divórcio, nascimentos fora do casamento, abortos e crianças abandonadas ou maltratadas.


O debate político

O futuro da sociedade depende do surgimento de jovens adultos competentes. Esse surgimento depende, por sua vez, dos esforços de pais amorosos. Pais amorosos são aqueles que têm corações generosos: a disposição para doar-se em prol de outrem. A contracepção inverte as tendências naturais dos pais, e endurece seus corações. Essa inversão psicológica tem efeitos inevitáveis sobre os filhos, que ficam propensos a desenvolver a mesma visão distorcida da sexualidade, e transmitir as mesmas atitudes para a próxima geração.

O debate público atual sobre a homossexualidade é apenas o último estágio de um velho conflito, que opõe uma visão gnóstica do homem contra o ponto de vista da lei natural, na qual o significado da vida humana e da ação humana está centrado no Criador. A luta para controlar a compreensão da sociedade sobre o significado e o propósito do ato sexual está no cerne deste velho conflito, um dos mais antigos e com maiores conseqüências da história da humanidade.

Ao mesmo tempo, essa disputa profunda pode ser expressa em termos bastante simples. Se as pessoas heterossexuais não podem assumir as responsabilidades implicadas na heterossexualidade, como então podem elas pedir à pessoa com inclinações homossexuais para assumir o "fardo" da sua luta pela castidade? Se os heterossexuais distorcem o relacionamento entre homem e mulher em seu nível mais íntimo, através da sua decisão de evitar a geração de uma nova vida, como então podem eles razoavelmente pedir àqueles que são orientados de maneira diferente para que resistam à sua própria tentação particular de distorcer as próprias vidas?

Na verdade, a maior parte da hoje "américa heterossexual" está agora perigosamente perto, em suas atitudes e suas orientações, dos mesmos sintomas que estão no coração da desordem afetiva homossexual: a centralização em si mesmo. Os Estados Unidos criaram uma cultura da rejeição, que é incapaz de prover o antídoto para a cultura homossexual. Os heterossexuais não podem afirmar a humanidade do marido e da mulher e ao mesmo tempo negar seus frutos, os filhos. A comunidade heterossexual que hoje teme ter filhos e os rejeita não pode ensinar muito para o homossexual em seu grito mais complexo de aceitação e de amor. Heterossexuais que insistem em certo desenvolvimento sexual para si, não podem fazer nada além de concordar com o mesmo comportamento quando ele é exibido entre homossexuais.

Os enormes transtornos sociais e psicológicos que vemos ao nosso redor não são fruto da “comunidade gay”. Nossos problemas atuais – incluindo mesmo o próprio movimento de “direitos gays” – surgiram como resultado de desordens que se tornaram predominantes primeiramente entre os heterossexuais. Se queremos tirar o cisco do olho dos nossos irmãos “gays”, talvez devêssemos primeiro remover a trave de nossos olhos. Se quisermos desenvolver a atitude de amor e carinho que é fundamental para ajudar os membros da “cultura gay” a superar a sua inversão, então nós precisamos primeiro recuperar a nossa compreensão da relação entre amor, sexualidade e compromisso permanente para com cônjuge e filhos. Devemos reconhecer primeiro as crianças que cada um de nós tem sido chamado a "co-criar" e a amar, e devemos mostrar o nosso amor tanto para com as crianças que já estão neste mundo quanto para com as que ainda virão ao mundo. Do contrário, se as duas inversões – heterossexual e homossexual – continuarem a se reforçar uma à outra, o futuro de fato é sombrio; especialmente sombrio para as crianças, e para a sociedade que essas crianças serão capazes de construir.
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Fagan, Patrick F. "A ‘Culture’ of Inverted Sexuality". Catholic World Report (Novembro, 1998).

O AUTOR
Patrick F. Fagan é o “Senior Fellow” William H.G. FitzGerald em questões familiares e culturais da Fundação Heritage, em Washington, DC. Uma versão deste ensaio foi originalmente apresentada em um seminário patrocinado pela Instituto Público Americano de Filosofia; os trabalhos daquele seminário serão publicados em um conjunto de dois volumes, com o primeiro volume para janeiro de 1999, em edição de Spence Publishing, de Dallas, Texas.
Copyright © 2000 Catholic World Report

Traduzido de:
http://catholiceducation.org/articles/sexuality/se0049.html

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