O Papa quer que nós pensemos em sexo. Isso mesmo que você está lendo. A maioria de nós, eu diria que quase todos os jovens, fala sobre sexo, deseja ter um ato sexual, faz piadinhas sobre sexo... Mas poucos param para pensar o que realmente significa a sexualidade. Por que Deus nos criou homem e mulher e nos deu desejos sexuais? O que significa a relação sexual? Essas são perguntas fundamentais, pois se relacionam com quem nós somos, o que estamos fazendo aqui, e para onde vamos. Na verdade, têm a ver com o sentido de toda nossa existência.
Foi para responder a essas perguntas que o Papa João Paulo II desenvolveu a Teologia do Corpo (em inglês: Theology of the Body, ou simplesmente TOB): uma série de catequeses realizadas durante 129 audiências gerais públicas, no Vaticano, entre 1979 e 1983. O recado de João Paulo II tinha um destinatário certo: a cultura de morte e de falsa liberalização sexual.
A Igreja mal começou a entender e divulgar a profundidade dessa teologia. George Weigel, biógrafo de João Paulo II disse, certa vez, que a Teologia do Corpo era “uma bomba-relógio teológica, programada para explodir, quem sabe em algum tempo no século XXI”.
As 129 catequeses do Papa podem ser divididas segundo uma seqüência lógica:
1. O homem original – Aqui o Papa vai nos levar para nossas origens. Tudo começa na discussão em que os fariseus perguntam a Jesus se é lícito pedir divórcio, pois Moisés permitia. Então Jesus diz que foi por causa da dureza do coração do homem que Moisés permitiu o divórcio, mas que “no princípio não era assim”. Essa é a frase-chave. A partir daí, o Papa nos leva à narrativa da criação, no livro do Gênesis, nos dois primeiros capítulos. A reflexão gira em torno do que sentiam (isso mesmo, uma tentativa de ver a subjetividade, os sentimentos de Adão e Eva!) nossos primeiros pais. O que significou a experiência da solidão original? “Não é bom que o homem esteja só”. “Adão nomeou todo os animais da terra e não encontrou ajuda que lhe fosse boa”. O Papa comenta a criação da mulher. A sexualidade (o ser homem e o ser mulher) faz parte de quem nós somos fundamentalmente, no nível mais profundo do nosso ser. Qual o sentido da relação original homem-mulher? “Crescei e multiplicai-vos”. Como era a experiência da nudez original? “Estavam nus e não sentiam vergonha”? Que significa nosso corpo material no desígnio original de Deus?
2. O homem histórico – O ser humano não permaneceu no paraíso, houve a queda, e o pecado entrou na história. O homem deixa de cumprir o plano original de Deus. Há uma diferença entre o homem original, e nós, que vivemos na história. O que mudou? Qual o significado da relação sexual agora? Qual seu papel para nos levar “de volta” a Deus? Por que e como Cristo nos redimiu na cruz? Como podemos viver a redenção de Cristo?
3. O homem escatológico – Escatologia diz respeito aos últimos tempos. Depois de ver nossa origem, e nosso percurso na história, o Papa se volta para nosso destino: para onde estamos indo? Como será a experiência do paraíso, e o que nosso corpo material tem a ver com isso?
4. O celibato consagrado – Depois de analisar nossa origem, nosso caminho histórico, e nosso destino, o Papa a partir de agora se volta a discutir o “como” nós podemos caminhar para Deus, e aqui ele trata de um dos dois caminhos: a abstinência consagrada (os religiosos e religiosas, os celibatários).
5. A beleza e a missão do matrimônio – Na parte talvez mais bela e surpreendente de suas catequeses, o Papa fala sobre a dignidade do matrimônio, relacionando também com a relação trinitária Pai, Filho e Espírito Santo (ela também, de certo modo, um “casamento”), e com o nosso “casamento” com o noivo, o Cordeiro, como fala o Apocalipse.
6. Reflexões sobre a Humanae Vitae – Na última parte da Teologia do Corpo, tendo já mostrado todas as suas reflexões, faltava ainda uma última, desta vez sobre a contracepção. A “Humanae Vitae” foi uma Encíclica do Papa Paulo VI, talvez a Encíclica que foi mais mal-interpretada, que gerou mais oposição e controvérsia na história da Igreja, e que a maioria dos cristãos hoje em diante continua a ignorar. Nela, Paulo VI dizia que a contracepção (até mesmo a química – pílulas) atentava contra a dignidade do ser humano, e que a Igreja não podia dar seu apoio. Na verdade, João Paulo II, a partir das reflexões anteriores, nos mostra como a contracepção está na base da “cultura de morte” dos nossos tempos, e como ela fica totalmente sem sentido e contrária aos planos de Deus para nossa própria felicidade, quando refletimos no que ela significa.
Esse é um panorama bastante resumido e incompleto do que é a Teologia do Corpo, de João Paulo II. Espero poder divulgar muito mais, descendo a maiores detalhes de cada parte dessas, em textos e podcasts futuros. E qual a importância disso tudo? Compreendendo melhor o significado mais profundo da sexualidade não só para nossa relação com Deus, mas também para nossa relação conosco mesmo, então podemos ter... exatamente isso mesmo: uma melhor relação com Deus e conosco mesmo. E podemos entender a estonteante beleza de Deus e da sexualidade humana. Quando a gente vai estudando a Teologia do Corpo, a gente nunca mais olha pra nossa sexualidade e pro nosso corpo da mesma maneira.
Em Cristo,
Daniel Pinheiro
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