Dizem que cartas de amor estão fora de moda, que hoje o negócio é curtir, é ficar, é usar blogs e e-mails e, sobretudo, de forma nenhuma, comprometer-se.
Dizem que a felicidade é jamais ter problemas e, se tiver, trocar imediatamente de parceiro.
Dizem que romantismo e demonstrações de afeto são coisa do passado.
No entanto, vi muita gente que diz pensar assim ficar com os olhos marejados de lágrimas e o coração cheio de desejo diante das cartas abaixo, enviadas na segunda metade da década de 50.
Você se arrisca?
Dezembro de 1955, quarta feira à tarde
Meu caríssimo Pietro,
Uma noite e meio dia sem meu muitíssimo amado Pedro; mas tu estás sempre presente e te sigo momento a momento na tua longa viagem. Ontem à noite, voltando de Milão, fui ver teus parentes a fim de tranqüilizá-los e levar-lhes tua saudação; depois, jantei comigo e voltei com Zita à nossa casinha.
Pietro, dirás que exagero: mas que vazio e tristeza por não te encontrar em casa! Tratei de entreter-me a escrever cartões de natal; depois fui ver o telejornal, mas meu Pietro não apareceu na tela... Um bom rosário, a oração pela nossa família e, contigo, meu querido tesouro, no coração e na mente, adormeci.
(...) não me falta companhia, enquanto tu estás sozinho na fria Suíça. Agasalha-te bem, Pietro, e não te canses muito.
(..) Meu Pietro, sou tão feliz porque te quero bem e tu também me queres muito – e farei sempre de tudo para que tu encontres em mim a esposa boa, afetuosa, compreensiva e sempre sorridente.
Um beijão grande, grande e um abraço afetuosísimo da tua
Gianna
Sobre o Mar Báltico em diração à Dinamarca
Quarta-feira, 14/12/1955. 16:40 hs
Gianna amadíssima,
Escrevo-te em um momento no qual, mais que nunca, sinto saudades de ti e de nossa casinha. A escuridão invade quase completamente o mar e o navio avança, silencioso, ondejado pelo vento.
Penso em ti, sozinha, com teus pacientes de Mesero, como pensava, também, hoje de manhã, em ti, devotíssima, em oração diante da querida Mãe do Bom Conselho.
Ao passar por Hannover, te revia, ainda comigo, durante nossa inesquecível estadia ali, sempre afetuosíssima, boa e tão querida. (...)
A viajem através da Alemanha foi boa: pouquíssima neve que cobria praticamente tudo. Lemos no Corriere della Sera sobre o acidente ocorrido com o Leandinovisien Express na noite de segunda para terça. Talvez te tenhas preocupado comigo! Estava tranqüilo em Zurigo.
Nas cidades alemãs e suíças, há árvores e luzes de Natal. Este é o nosso primeiro natal, Gianna.
Quanto perfume de doçura e de íntima serenidade me traz! Abraço-te e beijo fortemente, este que vive de ti,
Teu Pietro
“Coisas de recém-casados!”, pensarão alguns que lerem este artigo. Diríamos melhor se exclamássemos: “Coisas de recém-casados... santos!” Depois de seis anos e três filhos, a quem chamam de “tesouros”, enfrentando junto com ela o câncer de útero da esposa, grávida do quarto filho, eis o que escreve o ... santo! ... marido:
Quarta feira, 13 de dezembro de 1961
23 horas, Londres, 0:45 horas na Itália
Que alegria – esta noite – ouvir a ti e nossos tesouros tão próximos a mim, quase em Londres: era-me tão próxima a expressão dulcíssima e afetuosa das vozes de vocês ao telefone que sentia-os comigo. E tu “estás bastante bem”, como disseste.
Quanto me dói teu sofrimento e tua ansiedade de quase todos os dias, sobretudo agora que estou distante! Sei que és uma mulher forte no sofrimento e que sabes esconder as tuas preocupações.
Sei ainda que tu preferes e desejas que eu não fique preocupado contigo; mas isso eu não consigo quase nunca. Mantém-te serena, caríssima Gianna, e verás que esta quarta maternidade será bendita e feliz como as outras que a precederam.
Por estas horas nossos maravilhosos tesouros estão dormindo serenos, depois de haverem rezado pelo papai distante e desejo que também o teu sono seja pleno e repousante.
Perdoa-me se, não obstante as promessas, não consigo restringir meu trabalho aos limites convenientes. Lembro-me de nossa inesquecível estadia aqui em Londres e te beijo e abraço com todo o amor. Beija por mim nossos tesouros.
Teu, Pietro
Ternura, amor, compromisso, fidelidade a toda prova, “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”. Pietro e Gianna Molla, ele, hoje, com 93 anos, ela canonizada no dia 16 de maio, têm muito a nos ensinar. Nosso amor, no fundo, talvez nos pareça efêmero, ou “assunto de segundo plano”. Por isso, talvez pensemos que há algo mais importante a fazer do que trocar palavras de amor.
Quem sabe, acabamos substituindo as palavras de amor fiel, verdadeiro, comprometido e constante por palavras mais “modeernas”, eróticas, provocantes, pensando em nos tornarmos sensuais, confundindo amor e sexo... Quem sabe, afogamos antigas palavras de amor em um mar de silêncio indiferente e frio.
Deus permita que voltemos a estas palavras de “amor fora de moda” que refletem uma decisão interior e eterna de amar. Foram palavras como essas, expressões de um amor deste tipo, que uniram Pietro e Gianna entre si e a Deus e os fizeram fortes para optarem por levar até o termo a gravidez de sua quarta filha apesar do câncer de útero de Gianna, constantemente aconselhada por seus colegas médicos a interrompê-la.
Foi este “amor fora de moda”, foram estas “cartas fora de moda” que sustentaram Gianna até o martírio e Pietro e Gianna Emmanuella – sua quarta filha, seu quarto “ tesouro” – até a cerimônia de canonização, inundados de sorrisos de beata felicidade. Isso não provaria que tal amor, expresso tão abertamente em tais palavras, afinal, vale mais a pena que tudo o mais abaixo de Deus?
Por Emmir Nogueira
Fonte: Comunidade Shalom
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