terça-feira, 21 de março de 2017

Teologia do Corpo 002 - Desejo bom e desejo ruim

Amanda (nome fictício) não saberia dizer há quanto tempo vem pensando naquele rapaz. Parece que todas as coisas da sua vida estavam rodando em torno dele. Se desse certo, tudo o mais daria certo. Se não desse em nada, toda sua vida seria em vão.

André (nome fictício) falou comigo ontem pela manhã, estava tenso e preocupado. Não conseguia parar de pensar naquela garota. Achava realmente que era a garota mais bonita que já tinha visto em toda sua vida. Não se achava nem digno dela, mas ao mesmo tempo parece que sua cabeça não conseguia tirar a imagem daquele rosto de seus pensamentos.

Será que alguma vez você já teve algum pensamento parecido com os de Amanda ou de André? Muitas vezes na nossa vida somos tomados pelo desejo de conhecer uma pessoa, de estar com alguém. Mas será que esse desejo não é pecado?

Na Teologia do Corpo um dos pontos fundamentais (e mais difíceis de entender), na minha opinião, é saber diferenciar o desejo santo do desejo malicioso. Às vezes é uma descoberta para alguns saber que existe um desejo santo. Para muitas pessoas, todo desejo é pecaminoso, e a castidade se alcançaria mutilando os pensamentos e desejos. Mas não é assim. 

É compreensível que, em uma sociedade tão sensualizada, tão pervertida, tão cheia de pornografia e luxúria, as pessoas passem a olhar com maus olhos para o desejo. Mas é preciso diferenciar: de que desejo estamos falando?

São João Paulo II comenta que o utilitarismo é o que está por trás do desejo libidinoso. Utilitarismo significa, em termos simples, "utilizar" alguém para seu prazer. Nesse caso, a outra pessoa se torna um mero objeto, que está ali para me dar prazer. Eu só recebo, só usufruo. Não partilho nada.

O contrário disso é o amor-doação. O amor que é entrega de si para a felicidade do outro. Se você tem desejo de estar com aquele rapaz ou aquela garota porque você realmente quer fazer a pessoa feliz, você está no caminho certo. Está no caminho do desejo santo. 

Claro que, se você ama de verdade aquela pessoa, vai querer estar junto dele ou dela por toda a vida, tendo a oportunidade de viver para fazer a outra pessoa feliz. O nome disso é casamento. Claro que casamento envolve sexualidade, filhos, procriação. E sexualidade envolve prazer. Você sabe disso. Mas não está procurando aquele relacionamento com o fim exclusivo de encontrar prazer. Esse prazer vem como um adicional. Um adicional agradável aos sentidos, e bem vindo, é certo. Mas, ainda assim, não é o principal.

Se por acaso meu esposo ou minha esposa sofre uma doença ou um acidente inesperado que desfigura sua beleza física ou deixa a pessoa incapaz de proporcionar prazer, por causa disso vou deixar de amar a pessoa? Se o marido ou a mulher avança na idade e a passagem do tempo não deixa de trazer suas consequências em termos de rugas e de decaimento da beleza corporal, por isso vou amar menos a pessoa?

Por outro lado, quem ama só o corpo da outra pessoa, não ama a pessoa inteira. Enquanto a pessoa está jovem, as coisas se mantêm, com base na pura atração física. Muitos chamam isso de "amor". Vem a idade, e a beleza começa a desaparecer. "Vamos fazer cirurgia plástica", dirão algumas pessoas. Sim, a cirurgia pode até atrasar mais alguns anos as marcas do tempo, mas não existe pessoa imortal. Será que as pessoas realmente precisavam daquela cirurgia? Será que não era medo de não ser realmente amada se deixasse de ser bela?

O amor verdadeiro traz consigo o desejo verdadeiro. Então, da próxima vez que estiver pensando sem parar naquele rapaz, ou naõ estiver conseguindo tirar a imagem daquela garota de sua mente, pare para refletir um pouco. Será que meu desejo é verdadeiro, ou é apenas busca de prazer? Será que eu quero realmente o bem daquela pessoa e estou disposto a sacrificar minha vida pela seua felicidade, ou será que estou apenas tendo uma tentação de usufruir luxuriosamente daquela beleza, daquela companhia?

São perguntas assim que podem ir aos poucos amadurecendo nossa consciência para o que é o verdadeiro amor. Não deixo de pensar que muitos jovens precisam urgentemente parar e refletir sobre muitas coisas relacionadas com o desejo. Não consigo deixar de pensar que o ambiente em que crescemos (escola, amigos, programas de TV, filmes etc) nos educa para o desejo libidinoso. Não educa para o desejo santo, o desejo de amar de verdade, de se doar, de se sacrificar, de estar junto... E também de ter gratificação (prazer etc) por estar com a pessoa? Sim, mas não só por causa disso, e sim principalmente por realmente querer o melhor para ele(a).

Resumindo, o desejo tem que estar ordenado para o bem, para o plano de Deus. Por exemplo, se você tem desejo por uma pessoa casada, com certeza isso não é plano de Deus! Tire esses pensamentos da cabeça! Se você tem desejos que identifica como luxuriosos, pensando somente em prazer e aspectos corporais, cuidado, pois pode ser pecado sim, por não estar ordenado para o bem daquela pessoa, mas somente para sua satisfação sensual. Por outro lado, se o seu desejo te leva a querer conhecer a pessoa, amando-o(a) de verdade cada vez mais, fazendo surgir em você, além da admiração da beleza da pessoa, o desejo de entregar sua vida pela felicidade dele(a), é mais provável que você esteja num caminho melhor.

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