domingo, 4 de outubro de 2009

Masturbação: psicologia e fatores que influenciam

Por John F. Harvey, OSFS


Introdução

Muito já se escreveu sobre masturbação, e alguém pode perguntar porque a necessidade de escrever mais sobre o assunto. Mas há novas maneiras de pensar o problema, bem como a minha própria experiência no contato e ajuda a pessoas que procuram deixar a masturbação, o que me deu vários “insights” sobre a psicologia da masturbação, a partir do estudo do vício em sexo, do qual a masturbação é um grande exemplo.

Fiquei também impressionado com grupos de suporte que levam a sério a questão da masturbação, tais como o “Sexaholics Anonymous (S.A.), Sex and Love Addicts Anonymous (S.L.A.A.), e Courage.

Outra razão para que eu escreva é que muitas pessoas que lutam contra essa fraqueza não recebem o adequado aconselhamento espiritual e moral. Em alguns casos eles são orientados de forma errada, dizem-lhes que a masturbação melhora a “performance” do ato conjugal, ou que faz parte do processo de recuperação de dificuldades sexuais. É bem sabido que o hábito da masturbação atinge pessoas de todas as idades, sendo encontrado entre crianças, adolescentes, adultos, casados, idosos, religiosos, seminaristas e padres.

Por favor observe que digo “tendência” (mais precisamente, tendência desordenada). Muitas pessoas têm encontrado, de diversas formas, controle sobre essa tendência com um programa espiritual. Outros, entretanto, lutam no escuro, e é para esse grupo que escrevo.

Considerações psicológicas sobre o hábito da masturbação

A masturbação é algumas vezes chamada de “auto-abuso”, ou onanismo, ou ainda em livros seculares, “auto-estimulação”. Quando a estimulação psíquica acontece durante o sono, é conhecida como polução noturna. O Pe. Benedict Groeschel usa o termo masturbação para referir-se a ações que acontecem no estado de sono ou quase sono, ou a ações de crianças e comportamento sexual pré-adolescentes, reservando o termo “auto-erotismo” para a atividade de adolescentes mais velhos e adultos “que por uma variedade de razões voltam-se a si mesmos e encontram aí um substituto para a vivência real nesse comportamento simbólico e intensamente frustrante”. No clássico artigo sobre teologia da masturbação, o Pe. Jos. Farraher, S.J. descreve a masturbação como “a estimulação dos órgãos sexuais externos até um ponto de clímax ou orgasmo pela própria pessoa, através de movimentos com a mão ou outros contatos físicos ou através de estímulos como figuras ou imaginações (masturbação psíquica), ou através de uma combinação de estimulação física e psíquica”. Em um sentido mais amplo, isso inclui a masturbação mútua, na qual as pessoas tocam os genitais um do outro.

Mas talvez a descrição mais incisiva do hábito da masturbação esteja em uma carta de C.S. Lewis, citada por Leanne Payne em “The Broken Image”: “Para mim o verdadeiro mau da masturbação consiste no fato de que ele pega um apetite que, no uso correto, levaria o indivíduo para fora de si a fim de completar (e corrigir) a própria personalidade na personalidade de outra pessoa (e finalmente nos filhos e até nos netos) e a inverte, fazendo-a voltar-se para a prisão do “si mesmo”, a fim de manter um harém de esposas imaginárias. E esse harém, uma vez admitido, trabalha contra a chance da pessoa um dia sair dele e realmente se unir a uma mulher real. Isso porque esse harém está lá, sempre acessível, sempre subserviente, não exige sacrifícios ou ajustes, e pode ser acompanhado de atrações eróticas e psicológicas que nenhuma mulher real pode trazer”. Essa citação pode ser aplicada também às mulheres. Ela expressa o significado da masturbação como uma fuga pessoal da realidade em direção à prisão da luxúria.

Fatores que contribuem ao hábito da masturbação

A masturbação é um fenômeno complexo. Não iremos compreender porque uma pessoa cai nesse hábito enquanto não conhecermos algo sobre sua história, sobre as causas do problema. Escutando as pessoas logo se vê que a solidão é a principal causa, levando o indivíduo ao isolamento, fantasia, e masturbação. A solidão geralmente vem acompanhada de sentimentos de profunda auto-depreciação e ressentimento. Quando o mundo real é duro e proibitivo, a pessoa se volta para a fantasia, e quando a pessoa perde muito tempo em um mundo de fantasia, torna-se escravo de objetos sexuais (pois essa é a maneira com que ele vê as pessoas, como objetos sexuais).

Daí a pessoa entra no mundo irreal, mas prazeroso, da própria imaginação. Esse é o princípio do vício sexual, tão bem descrito por Patrick Carnes.

O hábito da masturbação se transforma muito frequentemente em vício, ou seja, a pessoa não consegue mais controlar a atividade masturbatória, apesar de grandes esforços nesse sentido. Normalmente falta a essa pessoa um “insight”, ela precisa de terapia em conjunto com uma direção espiritual.

Entretanto, às vezes o hábito da masturbação é temporário e circunstancial. Por exemplo, tão logo a pessoa sai de determinado ambiente, a tendência a se masturbar desaparece. Em um ambiente uma freira de 25 anos estava cercada de religiosas mais velhas, com as quais não tinha comunicação real, e em um segundo ambiente ela estava trabalhando com religiosas da própria idade. Rapidamente ela percebeu que estava isolada e solitária no primeiro grupo, e no segundo tinha amizades reais. Muitos outros exemplos podem ser dados onde a atividade masturbatória é sintomática de outras forças subjacentes na vida da pessoa.

Lidando com a masturbação a partir do ponto de vista religioso

Ao nível pastoral não tem sentido nem serve para nada especular o quão responsável foi o viciado em masturbação pelo seu passado. É melhor ajudá-lo a preparar um programa espiritual.

A maneira mais errada de lidar com a questão é pensar que os adolescentes vão parar de se masturbar quando crescerem. Muitos não deixam. Outro mito é dizer que quem pratica a masturbação tem menor chance de ter relações reais com outra pessoa de outro sexo ou do mesmo sexo. Isso pode ser verdade em algumas circunstâncias, mas a masturbação pode levar a agir com outras pessoas. Em alguns casos a masturbação foi recomendada como meio de aliviar as tensões do corpo, como uma forma de terapia sexual. Outros terapeutas usam a masturbação como um modo (alegam) terapêutico de reviver experiências sexuais traumáticas da infância (esse tipo de tratamento não é mais usado por terapeutas de prestígio). A masturbação mútua tem sido usada por homossexuais como forma de “sexo seguro”. Outros conselheiros minimizam o problema, não dão conselho algum, a não ser “não se preocupe com isso”. De fato muitos padres, seminaristas e professores de religião nas escolas católicas consideram a masturbação um “não-assunto”, ou talvez um problema puramente psicológico. E por aí vai.

Parece, entretanto, que a atitude correta é tratar a masturbação habitual e compulsiva como um problema aberto à soluções, desde que a pessoa siga um projeto espiritual. Ele deve assumir a responsabilidade pelo seu futuro. À medida que vai se tornando mais livre da desordem, ele também se torna mais responsável. Isso vai se tornando mais claro, e posso mostrar algumas situações típicas.

Adolescentes. É fato que adolescentes têm sido bombardeados com estímulos sexuais pela mídia, e os pais muitas vezes falham em dar orientações morais, e mesmo o clero e religiosos permanecem calados sobre o assunto. Por isso não é surpresa alguma que os adolescentes não saibam nada sobre a moralidade da masturbação. Muitos já se envolvem e se tornam viciados na prática antes mesmo de se conscientizarem plenamente que ela é moralmente errada. Eu uso o termo “plenamente” porque, apesar de toda a lavagem cerebral de nossa cultura, muitos jovens sentem que a masturbação é errada.

Ao mesmo tempo eles se sentem incapazes de controlar um hábito já existente, e em sua vergonha e culpa escondem-se e fogem de discutir o assunto com conselheiros, e fogem mais ainda de discutir o assunto com padres, já que eles são tidos como figuras autoritárias. Incertos sobre si mesmos, confusos acerca dos valores propostos pela cultura, e algumas vezes pela própria família, esses jovens facilmente se refugiam no mundo da fantasia do prazer sexual.

Muitas vezes temerosos de relacionamentos reais com pessoas do outro sexo, eles mergulham no mundo da fantasia da masturbação. Adicione-se a isso o caos moral e os conselhos errados sobre masturbação em aulas de religião em algumas escolas católicas, e você pode compreender porque nossos jovens sequer mencionam no confessionário a masturbação como um problema moral. Isso dá aos padres ainda mais motivos para responder seriamente aos jovens que levantam essa questão.

Precisamos fornecer direcionamento espiritual adequado aos jovens, reconhecendo seu desejo de ser casto, e dando-lhes conselhos específicos no assunto.

Talvez falhemos em perceber a quantidade de culpa presente em jovens com o hábito da masturbação. Eles percebem que há algo errado no que fazem, apesar de lhes falarem para “não se preocupar com isso”, ou “você não pode fazer nada”, ou “quando você crescer isso passa”. Eles precisam de orientação, mas não a receberão enquanto não forem informados sobre a moralidade da masturbação, e os fatores psicológicos que muitas vezes os impedem de exercer o livre-arbítrio. A minha opinião (e a de outros confessores) é que muitos adolescentes não comparecem à Santa Comunhão aos domingos por sentirem que não conseguem superar o hábito.

Já com relação aos jovens adultos, o mito diria que esse hábito é para passar nessa idade. Mas com o casamento acontecendo cada vez mais tarde (depois dos 25 anos), com noivados durando anos a fio, e com o constante estímulo da mídia e da propaganda, não é surpresa que muitos homens e mulheres da masturbação, algumas vezes masturbação mútua. Pessoas muito envolvidas assim se consideram virgens, já que não aconteceu a penetração vaginal, são chamados de “tecnicamente virgens”, mas é preciso que eles reconquistem a virtude da pureza.

Outras pessoas solteiras vivem na fantasia quando não estão trabalhando. Sem namorar com ninguém por uma variedade de razões, incertos sobre o que fazer da vida, e sem compromisso com esposa e filhos, frequentemente eles buscam refúgio em várias formas de fantasia, como revistas eróticas, etc. Estão muito ocupados com vários compromissos, e muito solitários. Sua tendência a se masturbar muitas vezes extrapola para um intercurso genital quando surge a oportunidade. Em outras palavras, seu ídolo é o sexo.

É muito difícil chegar a esse grupo, que muitas vezes só vem à Igreja na Páscoa e no Natal, para agradar a família. Talvez quando chegarem aos 30 anos e perceberem que há mais na vida do eu só sexo, aí então venham buscar auxílio espiritual. Aqui a atividade sexual não é tanto o problema, mas um sintoma de uma profunda fuga do que é espiritual.

Quanto aos adultos mais maduros, é minha experiência que quando cristãos atingem os 30 anos sem ter escolhido uma vocação na vida, tal como casamento, vida religiosa, sacerdotal, ou uma vida de solteiro servindo a Cristo no mundo, eles começam a se perguntar pelo sentido da vida pessoal. Ainda assim, os desejos sexuais permanecem fortes como antes, e talvez mais intensos, e a pessoa pode gastar mais tempo da fantasia, levando à masturbação freqüente.

Isso, por sua vez, produz fortes sentimentos de vergonha e culpa. Se a pessoa não procura orientação espiritual para o problema, ou se quando procura não encontra nenhuma ajuda, ela vai continuar levando esse peso para a terceira idade.

Algumas diretivas espirituais

Acredito que as seguintes diretivas são úteis:

(1) Ajude a pessoa a refletir sobre o sentido da vida, suas esperanças, suas conquistas, seus desapontamentos, suas frustrações, sua solidão. Tente descobrir o que consome a pessoa, já que a masturbação geralmente é um sintoma da inquietude da alma, e precisamos atacar as causas do problema primeiro.

(2) Se possível, procure construir com a pessoa um projeto espiritual de vida.

(3) Conscientize a pessoa que a maioria dos seres humanos têm a tendência de fugir para mundos prazerosos de fantasia quando a realidade se torna dura e difícil, e a masturbação geralmente surge a partir da fantasia sexual. A estratégia espiritual é aprender como trazer a pessoa de volta da fantasia para a realidade tão cedo quanto possível, assim que se percebe que a fantasia sexual está envolvendo a pessoa. Uma técnica que funciona com algumas pessoas é fazer uma curta oração, e então começar a fazer algo de externo e físico, como por exemplo caminhar, fazer algum trabalho doméstico, e daí por diante. Já aconteceu de você se encontrar em uma fantasia de raiva, de inveja ou sexual, e o telefone tocar, e quando você vai atender a fantasia desvanece? A questão é se manter na realidade.

(4) Além de compartilhar o problema com um diretor espiritual, tente encontrar um grupo de suporte com o “Sexaholics Anonymous (S.A.)”. Cultivar amizades reais com pessoas reais reduz significativamente o poder da fantasia sexual, e dá à pessoa um sentido de valor pessoal.
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Trecho do artigo “The Pastoral Problem of Masturbation”, de John F. Harvey, OSFS. Disponível no site Courage.net - http://couragerc.net/PIPMasturbation.html

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