Por Ir. Helena Burns, FSP
“A Nova Evangelização" é um termo cunhado pelo Papa João Paulo II para descrever a necessidade atual de evangelização e re-evangelização dos países e regiões do mundo que são historicamente cristãos, mas por diversas razões já não o são mais, ou são cristãos apenas no nome. O Papa Bento XVI retomou esta convocação com relação à Europa, em particular, ao testemunhar as tentativas do continente de negar até mesmo a concretude de suas raízes cristãs. Papa Bento inclusive instituiu o Conselho Pontifício para a Nova Evangelização, em 2010.
A "re-evangelização" de países não é coisa nova. Há precedentes em que um país / povo recebeu o “kerygma” (o primeiro anúncio do Evangelho) de primeiros missionários, mas a Igreja local ficou sem pastores, careceu de um desenvolvimento sistemático estrutural, voltou às religiões nativas, caiu em heresia, ou foi convertida a outras religiões devido a invasões etc. A parábola do semeador e das sementes é perfeitamente aplicável aqui. A Índia afirma ter recebido seu kerygma do próprio Apóstolo Tomé. A Inglaterra recebeu a Fé no início, mas estava necessitando de re-evangelização logo depois. Os índios Potawatomi em Michigan foram batizados por um padre missionário e aprenderam o Pai Nosso em latim, mas não viram outro sacerdote por muitos anos. Sua recitação do Pai Nosso serviu como prova de seu batismo aos missionários subseqüentes.
O que a Teologia do Corpo, de João Paulo II, tem a ver com a Nova Evangelização? Tudo. Embora não tenha “ligado os pontos” ele próprio – provavelmente por modéstia – a correlação é vital, pelo menos para a civilização ocidental. Como assim? Não há evangelização sem a evangelização da cultura. Indivíduos pertencem a culturas, e o Evangelho não só deve transformar o indivíduo, mas a cultura também, através da "inculturação". Por que a necessidade de evangelizar as culturas? "Cultura" é tudo o que nos torna humanos: trabalho, arte, recreação, lazer, esportes, vida familiar, ritos de passagem, as redes sociais, política, comida, dança, literatura, teatro, rituais e, sobretudo, louvor e lirturgia. Para que o Evangelho permaneça e seja eficaz, deve permear todas essas áreas.
Hoje em dia, a "cultura pop" é a cultura dominante. Alguns poderiam chamá-la de "cultura americana" ou “cultura midiática”. Alguns desdenham a cultura pop, definindo-a como “cultura inferior” em oposição à "alta cultura" da música clássica e dos "grandes livros" etc. Mas o fato é que a “cultura pop” tem todos os sinais de uma cultura genuína. E é a única cultura a que muitas pessoas jovens e outras pessoas não tão jovens assim afirmam estar ligadas. Como João Paulo também disse: "O homem é o caminho da Igreja." Nós não podemos nos dar ao luxo de ficar para trás, distanciados das estradas pelas quais as massas viajam. Devemos "colocar-nos ao largo" (“duc in altum”), ir mais a fundo, entrar nos meandros confusos da cultura pop, se quisermos trazer e ser Cristo, Caminho, Verdade e Vida, para as almas.
Como o Concílio Vaticano II nos ensinou, há "sementes do Evangelho" presentes em cada cultura. Há uma necessidade de "batizar" o que já é bom em uma cultura e "purificar" o que não é. Quais são as "sementes do Evangelho" presente no Ocidente de hoje, a assim chamada cultura "pós-cristã", e na cultura pop? Uma fascinação, obsessão, e compromisso inabalável com o corpo, a sensualidade, o material, o belo, o que pode ser visto, sentido e experimentado. E João Paulo II disse: “Tudo bem. Podemos começar por aí”. Esta foi a genialidade da Teologia do Corpo. Em vez de começar com o espiritual, a alma, a mente, a consciência, isto é, o que não pode ser visto, ele disse: “Vamos começar com o que podemos ver.” O físico. O corpo. Como notou o biógrafo de João Paulo II, George Weigel, a Teologia do Corpo tem transformado e continuará a transformar todo o mundo teológico e filosófico (secular e religioso) de cabeça para baixo (ou do lado certo para cima!), dando-lhe um novo ponto de partida. Um ponto de partida universalmente verificável. E este ponto de partida não pode ser dissociado de Deus, porque é criação, e criação é uma doutrina, e agora estamos diretamente no colo de Deus.
Mas não foi sempre com a criação de Deus que começamos as nossas catequeses? "Deus fez o mundo"? Sim. No entanto, nós, católicos ocidentais, somos membros de carteirinha da nossa cultura ocidental em particular, que é cartesiana, isto é, que defende e vive, em seu âmago, uma divisão mente-corpo (veja a introdução de M. Waldstein para a nova edição da Teologia do Corpo, “Man anda Woman He Created Them”). Esta subjacente falha filosófica mina e substitui tudo o que é ensinado pela Bíblia e pela Igreja, e orienta nossas decisões diárias.
O fato que importa é o seguinte: Nós não temos corpos, nós somos corpos. Somos espíritos corporificados corpos espiritualizados. A definição da pessoa humana é: corpo e alma, juntos para sempre.
É a Teologia do Corpo algo novo ou algo velho, então? As duas coisas. É uma nova síntese das verdades eternas. João Paulo II, um catequista, apresentou o depósito da fé de tal forma que se torna imediatamente acessível a todos, porque ele começa onde todos nós vivemos: o nosso corpo, amor, relacionamentos. Jeff Cavins diz que o que aprendemos sobre a nossa fé ao longo dos anos muitas vezes equivale a uma "pilha de catolicismo", que pode até parecer um monte de fatos verdadeiros, mas não relacionados. João Paulo II tomou a caixa de quebra-cabeça da fé católica e reuniu os pedaços juntos para que possamos ver o quadro completo e belo do plano de Deus para o corpo humano, a pessoa humana, centrada em torno da criação / Encarnação / nova criação. Agora podemos ver como tudo está interligado: como a Eucaristia se conecta ao casamento, como o Magistério se conecta à doutrina social da Igreja, como o ano litúrgico se conecta aos nossos ciclos de fertilidade etc. Como o Padre Thomas Loya diz: "A Teologia da Corpo é o sistema de entrega para a soma total da sabedoria da Igreja".
Talvez possamos mesmo dizer que a teologia do corpo é a Nova Evangelização.
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Irmã Helena Burns, da congregação Filhas de São Paulo, ministra oficinas para adolescentes e adultos sobre a Teologia do Corpo, a literatura mediática e filosofia.
Traduzido de: http://www.ncregister.com/daily-news/a-synthesis-of-eternal-truths/#ixzz1V7O7cJoU
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