"Quando se decidir firmemente a viver uma vida pura, a castidade não será um peso para você. Será uma coroa de triunfo”. São Josemaria Escrivá
terça-feira, 22 de março de 2011
Como a Teologia do Corpo afeta a maneira com que vivemos e ensinamos a castidade
Por Janet Smith, Ph.D.
É importante lembrar que a Teologia do Corpo não foi escrita pensando em ser um programa para ensinar a castidade. João Paulo II a escreveu para estabelecer uma antropologia baseada na Bíblia e adequada para defender a doutrina contida na Encíclica Humanae vitae. Ou seja, ele tentou mostrar como a Escritura podia nos fornecer uma compreensão da pessoa humana capaz de nos ajudar a compreender porque a Igreja condena a contracepção. Isso o levou a meditar profundamente no significado do corpo humano como meio de revelar a verdade sobre Deus e sobre o ser humano. João Paulo II afirmou que nossos corpos revelam que somos feitos para ser dom (entrega) para os outros, e para receber outros como dons. João Paulo II explica que Adão e Eva eram capazes de estar nus e não terem o sentimento da vergonha porque eles não tinham pecado; eles compreendiam e viviam o “sentido esponsal” do corpo. Eles se respeitavam um ao outro como pessoas, e não eram capazes de usar um ao outro. O pecado trouxe paixões desordenadas, folhas de figueira, e a sempre presente possibilidade de vivenciar o sexo de forma errada.
João Paulo II, assim como Jesus, não estava interessado em nosso comportamento exterior, mas sim muito mais em nossa “subjetividade”, ou na qualidade de nossa vida interior. Ele escreveu capítulos sobre as palavras de Cristo: “Aquele que olhar para uma mulher com desejando-a com luxúria já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mateus 5, 27-28). João Paulo II via a fonte do pecado como estando presente no “coração”, ao invés de no corpo: em nossos pensamentos, emoções, e compromissos. O pecado vem do interior do homem, e se projeta para fora.
João Paulo II ensinou que Cristo não estava tanto acusando o coração dos seres humanos de agir erradamente, mas fazendo um apelo a nós a fim de vivermos no espírito do corpo redimido. Cristo veio para nos trazer as graças que nos permitem viver vidas moralmente corretas, não apenas com respeito ao nosso comportamento exterior, mas também com respeito aos movimentos interiores do nosso coração.
João Paulo II acreditava que ainda possuímos, nas camadas mais profundas de nosso ser, uma capacidade potencial de viver de acordo com o sentido esponsal do corpo (TdC 49). Ele nos pedia com insistência para não colocar nossos corações em constante suspeita, mas ter confiança de que as graças redentoras de Cristo podem restaurar a pureza em nossos corações: “Na pureza madura, o homem usufrui dos frutos da vitória sobre a concupiscência” (TdC 58). Sem a pureza nós “usamos” aqueles que queremos amar: “A pureza é um requisito para o amor. É a dimensão da verdade interior do amor no ‘coração’ do homem” (TdC 49).
Para alcançar a castidade ou pureza, são necessárias duas coisas: 1) uma correta compreensão do significado e propósito da sexualidade, e 2) o ordenamento das paixões de acordo com essa compreensão. Na Teologia do Corpo, João Paulo II está primeiramente estabelecendo a correta compreensão da sexualidade; ele diz muito pouco sobre o que é necessário fazer para alcançar a “pureza madura”. Sua descrição dela como “uma combinação da virtude da temperança e da piedade, um dom do Espírito Santo” nos fornece um caminho. Adquirir a virtude é, em grande parte, uma questão de hábito; aqueles que desejam alcançar a “pureza madura” devem evitar ocasiões de pecado; por exemplo, eles devem evitar olhar ou ouvir programas de entretenimento que levam a ações e pensamentos impuros. Adquirir a virtude da reverência (e aqui João Paulo II quer dizer “reverência” pelo dom da própria sexualidade e pelo dom da outra pessoa) é, em grande parte, uma questão de crescer no amor ao Senhor, o que se faz através da oração com as Escrituras, da recepção dos sacramentos, e da participação em atividades que promovem o crescimento espiritual.
João Paulo II, entretanto, focaliza como uma correta compreensão da sexualidade pode ser de enorme ajuda para se alcançar a pureza amadurecida. Muitos que estavam bastante presos ao pecado sexual relatam que, depois de compreender a visão da sexualidade que João Paulo II mostra na Teologia do Corpo, rapidamente se livraram de comportamentos e pensamentos sexuais imorais. Muitas pessoas, é claro, não experimentarão uma transformação tão fácil, mas no final encontrarão um novo modo de pensar e de se comportar com relação à sexualidade.
João Paulo II explica que os cônjuges que praticam a abstinência requerida pelo método da regulação natural de fertilidade têm maiores chances de alcançar a “pureza madura”, pois eles ordenam sua vida sexual aos bens corretos da sexualidade. De fato, eu conheço muitos casais que praticam sua fé católica devotamente, eu compreendem e vivem o sentido esponsal do corpo, e que, realmente, atingiram um alto grau de “pureza madura”. Seu amor pelo cônjuge os levaram a disciplinar os movimentos de seus “corações” e “pensamentos” de modo que eles já não mais experimentam fortes atrações por outras pessoas que não o próprio cônjuge. Eles, na verdade, estão experimentando a “redenção do corpo” que Cristo prometeu àqueles que o seguem.
Qualquer programa de castidade baseado na Teologia do Corpo deve fornecer uma extensa instrução sobre o estado do homem antes do pecado original, os desafios enfrentados pelo homem decaído, e a esperança que temos pela pureza madura à luz da redenção. Ele deve também fornecer um programa para crescer na virtude da temperança e no dom da reverência. A promessa de que aqueles que vierem a alcançar a “pureza madura” se tornarão semelhantes a Deus e capazes de amar seu cônjuge e as outras pessoas deve servir como uma maravilhosa motivação para vivenciar o sentido esponsal do corpo.
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Janet Smith, Ph.D. é professora de bioética no Seminário Maior de Detroit, EUA, e autora de vários livros.
Traduzido de: http://www.ncregister.com/daily-news/theology-of-the-body-and-mature-purity/
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