quarta-feira, 24 de junho de 2009

Susan Boyle e a Comunhão dos Santos

Por Christopher West

Se você ainda não sabe quem é Susan Boyle, digite seu nome no You Tube e veja sua apresentação no dia 11 de abril on programa de TV (Britain’s Got Talent). Até hoje acredita-se que é o vídeo mais visto. Uns poucos dias depois do show, sua performance já tinha sido vista mais de 3 milhões de vezes. Menos de duas semanas depois, estava perto dos 50 milhões.

Deixe-me descrever a situação sucintamente. Uma senhora de meia-idade, desajeitada, caminha para o palco recebendo a obviamente cética recepção da platéia e dos juízes. Simon Cowell, bastante conhecido nos Estados Unidos por tratar impiedosamente os participantes do American Idol, pergunta: “Qual o sonho?”.

Susan: Estou tentando virar uma cantora profissional.
Simon (cinicamente): E por que isso ainda não deu certo, Susan?
Susan: Nunca tive a chance antes. Mas aqui espero que isso mude.
Simon: Ok, e você gostaria de ter tanto sucesso quanto quem?
Susan: Elaine Paige, ou alguém parecido.

Como escreveu em seu blog Robert Canfield, um professor de antropologia na Universidade de Washington: “Facilmente consideramos que essa mulher estava tragicamente inconsciente das próprias limitações, com aspirações que ultrapassavam suas habilidades. E agora ela estava no palco, na televisão. Diante de uma grande audiência. Aquilo seria, desde o início, um desastre. Seria difícil assistir... Mas sua primeira nota mudou tudo. A platéia ficou em êxtase”.

Então, por que estou escrevendo sobre isso em minha coluna sobre Teologia do Corpo? Primeiramente, lendo sua “linguagem do corpo” – se visual descuidado, seu queixo proeminente, seu cabelo cinza despenteado, seu estranho rebolado em resposta a Simon Cowell – é precisamente o que fez as pessoas ficarem tão céticas. Definitivamente estávamos lendo o livro somente pela sua capa. Mas eu também penso que a Teologia do Corpo, de João Paulo II, coloca uma luz sobre a questão por que milhões de pessoas ao redor do mundo se emocionaram até as lágrimas pela sua performance. Quando esse “livro” aparentemente sem atrativos foi aberto e a platéia viu como a história que havia dentro dele era bonita, todos nós experimentamos um pouco do paraíso.

Parafraseando algumas noções difíceis contidas em sua Teologia do Corpo, João Paulo II ensinou que na outra vida estaremos todos liberados de tudo que nos pesava nessa vida. Todos os medos e inseguranças, todas as feridas e toda a vergonha que nos mantinha “escondidos” aqui na terra serão completamente retirados. Em total liberdade e confianças, sairemos de nossas conchas, compartilhando o dom único que somos todos e cada um de nós.

De algum modo, todos teremos nosso “momento no palco”, por assim dizer – assim como Susan Boyle. E todos os que estiverem no banquete celeste nos verão – nos verão verdadeiramente brilhando do modo inteiramente único com que Deus nos fez para brilhar. Então ficaremos maravilhados com a beleza, a singular e irrepetível beleza, de todos e de cada um de nós, por toda eternidade.

Quando você assistir (ou rever) o clip no You Tube, preste atenção nas expressões faciais dos juízes durante a performance – elas dizem tudo. Perto do final, chegamos até a perceber um pouco da “beleza interior” de Simon Cowell, quando sua face espontaneamente se iluminou e ele ficou olhando em uma espécie de estupor. Sem preço.

Inumeráveis blogueiros e comentaristas tentaram explicar por que esses sete minutos no You Tube nos movem tão profundamente. De novo, Robert Canfield consegue expressar bem por que: “Enterrado na psique humana estão sentimentos, desejos e ansiedades, normalmente profundos demais para as palavras. Apenas algumas vezes as vemos em nós mesmos. É sempre algo de fora que nos toca, de algum modo, onde sentimos mais profundamente. Em tais momentos nos lembramos que somos humanos – não apenas criaturas vivas, mas seres humanos, profundamente moldados por uma sensibilidade moral tão poderosa que rompe nossas inibições; ela pode explodir para a visão pública, para nosso estupor. E algumas vezes, essa forma objetiva – uma pessoa, um evento, um objeto, uma música – corporifica profundamente as sensibilidades em muitos de nós ao mesmo tempo, de modo que descobrimos o quanto compartilhamos nossos mundos privados, mundos que de outro modo seriam inacessíveis para qualquer outra pessoa. Torna-se um evento social, de modo que podemos todos nos alegrar, e chorar, juntos”.

Sim, é isso. No linguajar católico isso se chama Comunhão dos Santos. Uma pequena prévia do que será o céu.
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Traduzido de: Site Christopher West – Theology of the Body

http://www.christopherwest.com/page.asp?ContentID=114

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