sábado, 7 de março de 2009

Aprendendo a ser humano – O homem histórico e o homem escatológico

Adão e Eva tentados pela serpente no paraíso. De Michelângelo, no teto da Capela Sistina.


Por Christopher West


O Homem Histórico

A entrada em cena da vergonha indica uma mudança radical na experiência da corporeidade. Indica a perda da graça e da santidade. O “homem original” dá lugar ao “homem histórico”, que deve agora lutar contra a luxúria em seu coração.

A luxúria é o desejo erótico despojado do amor de Deus. Portanto, basta olharmos com luxúria para outras pessoas que já teremos cometido adultério em nossos corações (ver Mateus 5, 28). As palavras de Cristo são severas com relação a isso. João Paulo II coloca a seguinte questão: “Devemos temer a severidade dessas palavras, ou, pelo contrário, ter confiança em se conteúdo salvífico, em seu poder?” (8 de Outubro de 1980).

O poder dessas palavras baseia-se no fato de que o homem que as proclamou é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1, 29). Cristo não morreu e ressuscitou dos mortos apenas para nos dar alguns mecanismos para suportar melhor os pecados. Sua morte e ressurreição são eficazes. Elas efetivamente “liberam nossa liberdade da dominação da concupiscência”, como expressou João Paulo II.

Aqui na terra, sempre seremos capazes de reconhecer em nossos corações uma batalha entre o amor e a luxúria. Mesmo assim, João Paulo II insiste que “a redenção do corpo” (ver Romanos 8, 23) já está em curso no homem e na mulher da história. Isso significa que, se abrirmos nossos corpos mais uma vez para o “sopro” do Espírito Santo, poderemos experimentar uma “vitória profunda e real” sobre a luxúria. Nós poderemos, progressivamente, redescobrir naquilo que é erótico aquele significado nupcial do corpo, e vivê-lo adequadamente. Essa libertação do pecado da luxúria e a liberdade que ela nos garante é, na verdade, “a condição de toda vida em comum na verdade” (8 de Outubro de 1980).

O Homem Escatológico

O que dizer sobre a experiência da corporeidade e nosso desejo por união no que se refere ao “eschaton” (últimas coisas, tempos finais)? Não foi Cristo que disse que não iríamos mais nos dar e receber em matrimônio depois da ressurreição (ver Mateus 22, 30)? Sim, mas isso não quer dizer que nosso anseio por união vai se perder também. Significa que vai ser completamente satisfeito! Os sacramentos são meramente sinais terrenos das realidades celestiais. Não necessitaremos mais de sinais que nos apontem para o céu, pois estaremos no céu.

O céu é a eterna consumação do casamento entre Cristo e a Igreja. “Para o homem, essa consumação será a plenitude final da unidade da a raça humana, a qual Deus desejou desde a criação... Aqueles que estiverem unidos com Cristo formarão a comunidade dos redimidos, a ‘cidade santa’ de Deus, a ‘noiva, a esposa do Cordeiro’” (Catec. Ig. Católica, n. 1045). Foi para essa união que fomos criados desde o princípio. É para essa união que a união “de uma só carne” aponta, desde o princípio (ver Efésios 5, 31-32).

Portanto, na ressurreição do corpo nós redescobrimos – em uma dimensão escatológica – o mesmo significado nupcial do corpo no encontro face a face com o mistério do Deus vivo (ver 9 de Dezembro de 1981). “Essa será uma experiência completamente nova”, diz o Papa João Paulo II, mas “não estará de modo algum alienada do que o homem tem participado desde ‘o princípio’, nem mesmo... do significado procriativo do corpo e do sexo (13 de janeiro de 1982).

Trecho do artigo “An Education in Being Human”, de Christopher West, disponível no site Theology of the Body.net

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