Por Christopher West
Recentemente, um ex-padre católico apareceu em um programa de televisão
para defender sua escolha de deixar a Igreja a fim de se casar. Esse sacerdote
lutou por vários anos contra o desejo que sentia por por essa mulher, até que finalmente decidiu
que suas únicas opções eram casar com ela ou reprimir seus desejos sexuais. Segundo
sua visão, como ele anunciou para um público nacional, a "repressão" é
a única opção para uma pessoa que permaneçe celibatário.
Isso é verdade? Será que nossas únicas opções quando se trata de desejo
sexual consistem em “dar vazão” a ele ou reprimi-lo? De fato, para um mundo que
vive ligado à luxúria sexual, o celibato permanente parece absurdo. A atitude
geral do mundo para com o celibato cristão pode ser resumida em uma frase como
essa: "Ei, o casamento é a única chance "legítima" que vocês
cristãos tem de dar vazão a seus desejos. Por que diabos vocês querem
desperdiçar esta oportunidade? Vocês seriam condenandos a uma vida de
desesperada repressão."
A diferença entre casamento e celibato, no entanto, nunca deve ser entendida
como a diferença entre ter uma saída “legítima” para a luxúria sexual por um
lado, e ter que reprimi-la, por outro lado. Cristo chama todos – não importa a
sua vocação específica – a experimentar a redenção da dominação da luxúria.
Apenas a partir dessa perspectiva é que as vocações cristãs (celibato e
casamento) fazem qualquer sentido. Ambas as vocações – se forem vividas como
Cristo pretende – derivam da mesma experiência da redenção da sexualidade.
Em primeiro lugar, o casamento não é uma "saída legítima" para dar
vazão a nossas luxúrias e concupiscências sexuais. Como o Papa João Paulo II
indicou uma vez, os cônjuges podem cometer “adultério no coração” uns com os
outros, se eles tratam uns aos outros como nada mais do que uma válvula de
escape para uma gratificação egoísta (ver TdC 43:3). Eu sei que é um clichê,
mas por que tantas mulheres reclamam de "dor de cabeça" quando seus
maridos querem sexo? Poderia ser porque elas se sentem usadas, em vez de amadas?
Isto é a que a concupiscência nos leva – a usar as pessoas, e não a amá-las.
A libertação da dominação da concupiscência – essa desordem de nossos
apetites causadas pelo pecado original – é essencial, ensinou João Paulo II, se
quisermos viver nossas vidas "na verdade" e experimentar o plano
divino para o amor humano (ver TdC 43:6, 47:5). De fato, o ethos sexual cristão
“está sempre ligado ... com a libertação, por parte do coração, da
concupiscência” (TdC 43:6). E essa libertação é tão essencial para celibatários
consagrados e pessoas solteiras quanto o é para casais (ver TdC 77:4).
É precisamente essa libertação que nos permite descobrir o que João Paulo
II chamou de “pureza madura”. Na pureza madura “o homem goza dos frutos da
vitória sobre a concupiscência” (TdC 58:7). Essa vitória é gradual e certamente
permanece frágil aqui na terra, mas é todavia real. Para aqueles agraciados com
os seus frutos, abre-se um novo mundo – uma outra maneira de ver, pensar,
viver, falar, amar, rezar. A união conjugal torna-se uma agraciada experiência
de santidade, ao invés de uma base de satisfação do instinto. E o celibato
cristão torna-se uma forma libertadora de um viver sua sexualidade como um “dom
total de si” por Cristo e sua Igreja.
João Paulo II observou que a pessoa celibatária deve submeter “a pecaminosidade
de sua humanidade aos poderes que emanam do mistério da redenção do corpo ...
assim como qualquer outra pessoa deve fazer” (TdC 77:4). É por isso que ele
indica que o chamado ao celibato não é só uma questão de formação, mas de
transformação (ver TdC 81:5). A pessoa que vive essa transformação não é
obrigada a dar vazão a suas luxúrias. Ela é livre com o que João Paulo II
chamou de “a liberdade do dom.” Isso significa que seus desejos não estão no
controle dele, mas sim, ele está no controle de seus desejos.
Em suma, a autêntica liberdade sexual não é a liberdade de praticar as
próprias compulsões, mas é libertação da compulsão de se permitir se entregar à
luxúria. Apenas uma pessoa livre assim é capaz de fazer um dom gratuito de si
mesmo em amor – seja no casamento, ou em uma vida de devoção consagrada a
Cristo e à Igreja. Para a pessoa que é livre dessa maneira, sacrificar a expressão
genital da sexualidade em prol de um bem tão grande como o eterno Matrimônio
entre Cristo e a Igreja não se torna apenas uma possibilidade: torna-se uma
possibilidade bastante atraente.
Traduzido de: http://www.tobinstitute.org/newsitem.asp?NewsID=50