quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Entrevista com Jennifer Case, ex-atriz de filmes pornográficos

Por April Garris

A seguir apresento uma entrevista que fiz com uma grande amiga minha, Jennifer Case. Ela deixou a indústria pornográfico faz apenas poucos anos, e embora ainda esteja em recuperação, e trabalhando para reconstruir sua vida, ela gentilmente permitiu que eu a entrevistasse.

Jenni, muito obrigado por permitir essa entrevista.


Você é muito bem vinda, tudo que puder fazer para ajudar, é uma alegria.



Jennifer Case


Faz quanto tempo que você deixou a indústria pornográfica?


Eu oficialmente deixei há três anos, depois de me converter a Cristo. Antes, eu usava minha experiência com pornografia para promover minha carreira de dançarina e minhas atividades como prostituta etc.


Quantos anos você tinha quando começou pela primeira vez na indústria pornográfica, e por quanto tempo ficou nela?


Eu era muito jovem, tinha pouco mais de 18 anos quando comecei a fazer pornografia, e eu diria que estive nisso por cerca de dez anos. Eu realmente não sabia como cuidar de mim mesma, e parecia ser uma maneira fácil de sobreviver. Eu fiz cerca de 20 filmes.


Você se importaria em descrever como chegou a entrar na pornografia?


Eu comecei fazendo outras coisas primeiro, como dançar em um bar de strip. Eu era contratada para festas, e como acompanhante. Eu precisava do dinheiro, não tinha terminado os estudos, e já vivia por minha própria conta naquele ponto. Eu não tinha idéia no que estava me metendo naquela época.


De que você se lembra mais de sua primeira experiência? Foi muito traumática para você?


Essa primeira vez não foi como esperava. Estava chateada pelo fato do meu agente usar documentos falsos mostrando que tinha sido testada para AIDS e outras DST’s. Eu nunca fui testada. Eu pensava que seria eu e uma mulher – menos amedrontador, certo? Mas apareceram dois homens. Já muitas coisas me alertavam que tudo seria ruim.


E sobre a sua infância? Eu conheço muitas mulheres na indústria pornográfica com passado de abuso sexual, estupro, negligência e outros tipos de traumas. Você acha que algum evento de sua infância fez com que você ficasse mais suscetível à idéia de entrar no mundo da pornografia?


Definitivamente eu acho que a minha infância teve grande influência na minha entrada na pornografia. Meu pai era totalmente ausente, e meus pais se divorciaram quando eu tinha oito anos. Aos catorze anos fugi de casa, e passei por abrigos, orfanatos, instituições, e outros lugares, até que cheguei aos 17 anos. Eu penso que muitas coisas da minha infância me induziram a uma carreira na indústria do sexo.




Você mencionou que seu pai era ausente. Eu sei que esse é o caso para a maioria das atrizes pornográficas. Comigo também foi assim. Como você definiria seu estado emocional durante sua carreira na pornografia?

Na verdade é muito difícil de lembrar muitas coisas, porque eu bloqueei a maior parte. Eu penso que emocionalmente eu basicamente “não estava ali”, e eu me drogava com maconha e álcool e outras coisas, para que não tivesse que lidar com meus sentimentos, que eram tão fortes. Eu me vi depressiva e solitária, e meu comportamento era errático e de muita autodestruição. Eu olho para o passado agora e vejo que havia muita mágoa e amargura também. Minha vida era um verdadeiro caos.


Jenni, muitas pessoas que vêem pornografia acreditam que as mulheres adoram o que estão fazendo, e que estão simplesmente encenando suas fantasias. Essa é REALMENTE a verdade?

Essa NÃO é a verdade sobre a pornografia, é uma mentira. As mulheres que vivem essa mentira não gostam de fazer pornografia, e se dizem que gostam, é uma maneira de mentir para si mesmas para fazer parecer melhor. Quando eu fazia pornografia, eu queria que terminasse o mais rápido possível, e minha única motivação era o dinheiro. Eu pensava que estava fazendo o que era necessário para sobreviver naquele momento. Minhas fantasias consistiam normalmente em viver uma vida normal, eu fantasiava sobre como seria a vida se eu não estivesse naquele pesadelo. Quando você assiste pornografia, você está vendo uma mentira, feita para destruir você.


Quando você estava na pornografia, qual era sua opinião sobre os homens que viam pornografia – ou sobre os homens em geral?

Eu cresci aprendendo a odiar os homens de um modo geral, e não tinha nenhum respeito pelos homens que viam pornografia. Eu achava que os homens eram somente pervertidos, e só queriam a mesma coisa das mulheres. Ponto. E que eles tratavam as mulheres de uma forma horrível. Eu tenho uma idéia diferente dos homens agora. Eu os vejo como vítimas da pornografia, também. Eu sei que os homens querem o mesmo que as mulheres, muito mais do que só sexo, querem amor. Nós todos queremos amor. Nós todos temos um vazio a preencher, e algumas pessoas tentam preencher com pornografia. Alguns homens pagam por causa do vício em pornografia em preço muito alto, de perder as suas famílias e os empregos. Para mim, é muito trágico, e triste, que a pornografia destrói as pessoas que a fazem, e destrói as pessoas que a vêem. Isso é claro para mim agora.


Nós duas sabemos que muitas mulheres na indústria pornográfica sofrem doenças mentais. Eu sei que eu mesma sofri depressão grave, mesmo depois de deixar a indústria. Como você definiria sua condição mental quando deixou a indústria pornográfica?

Agora eu sei que, depois de anos vivendo aquela vida, eu fui traumatizada por ela. Era como suportar anos e anos de opressão e abusos de todos os tipos. Quando eu deixei a pornografia, e me livrei das drogas, etc., minhas emoções vieram à tona. Ao longo dos anos, sofri depressão, ansiedade, e muitos outros problemas, e tive que fazer terapia e tomar medicação. Qualquer pessoa que entra naquele meio já com uma doença mental só faz piorar.


E com relação a problemas físicos?

O principal problema que enfrentei ao longo dos anos foram as DST’s. Estava o tempo todo com infecções, muitas infecções diferentes. Eu deixei Hollywood por estar muito doente com clamídia. Meu abdômen às vezes doía tanto que eu tinha que voltar para casa. Meus órgãos genitais foram tão abusados que, em determinado ponto, um doutor que me examinou chamou um grupo de estudantes de medicina para olhar os meus órgãos danificados. Eu sabia o quanto aquele “negócio” deixa você mais velha antes do tempo e prejudica seu corpo.


Como você se recuperou pessoalmente do tempo que passou na pornografia? Foi muito difícil?

Eu sinto que o que me permitiu a recuperação foi Deus na minha vida. Deus me dá uma esperança que eu não tinha antes. Os últimos anos foram muito difíceis, mas tem valido a pena. O que tem me ajudado é o constante apoio de outras pessoas, a oração, a palavra de Deus, e muito amor. O que tem sido mais difícil é abandonar velhos hábitos, e tentar conseguir um “emprego de verdade”. Tudo é como tentar viver uma vida nova, de um modo melhor. Eu acho que minha recuperação é um processo que continua, e vai levar tempo. Eu estive no meio por muito tempo, e sofri muitos danos. Eu sei muito mais sobre pornografia agora do que jamais soube no tempo que estava atuando.


Se você pudesse dizer uma coisa para os homens que estão lendo isso agora, o que diria?

Homens, DEUS AMA VOCÊS! Eu também amo, e sempre vou rezar por todos vocês, para que as cadeias que aprisionam sejam quebradas. Vocês são escravos da pornografia, tanto quanto uma atriz. Se vocês estão vendo pornografia, ou são viciados, vocês estão tentando preencher um vazio dentro de vocês, que somente Deus pode preencher. Toda vez que vocês olham para pornografia, estão fazendo o vazio ficar maior, e isso vai destruir sua vida. Sua maldade é um veneno, uma mentira, e uma droga. Se vocês pensam que podem manter as coisas escondidas, saibam que Deus vai trazer tudo para a luz, para dar um basta em tudo, e curar vocês. Essas mulheres são preciosas, e merecem ser amadas, tanto quanto vocês. Há uma pessoa real do outro lado das imagens que vocês estão assistindo, e vocês estão destruindo sua vida e a vida de seus filhos. Em todo material pornográfico está uma mulher que é uma filha, filha de uma outra mulher. E se fosse a sua própria filhinha? Você pode, na verdade, estar contribuindo para a morte de alguém! Atrizes e atores pornográficos morrem frequentemente de AIDS, overdose de drogas, suicídios, etc. Por favor, parem de ver pornografia.


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April Garris esteve envolvida na indústria pornográfica em 2001, por aproximadamente 6 meses, e fez algo em torno de 15 a 20 filmes. Ela deixou a indústria no final de 2001, mas continuou a lutar contra o vício de drogas, doenças mentais e depressão grave. Ela começou a experimentar a cura verdadeira quando se converteu em 2005, e desde então tem vivido uma vida de autêntica liberdade.


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Trechos da entrevista traduzidos e adaptados.
Para ver a entrevista completa, acesse o site “Who Does it Hurt”:
http://www.whodoesithurt.com/april-garris/314-april-garris-a-jennifer-case

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Para mais artigos sobre Pornografia, visite:
http://vidaecastidade.blogspot.com/2009/05/artigos-sobre-pornografia.html
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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Casamento requer preparação

Por Mieczyslaw Guzewicz

A maior parte do grande número de crises no casamento e de divórcios que ocorre nos dias de hoje é o resultado da falta de uma adequada preparação para a vida adulta a dois. Para remediar essa situação, devemos primeiramente tirar de nossa mente qualquer outro arranjo entre pessoas que não seja o matrimônio.

Comecemos a refletir sobre esse assunto à luz do que nos diz o livro de Gênesis. Encontramos ali um plano prontamente acessível para construir um casamento feliz: “Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gen 2, 24).




Esse versículo contém algumas condições que devem ser cumpridas para um casamento; e essas condições devem ser cumpridas antes mesmo do casal por o pé na Igreja. Temos aqui requisitos específicos para construir uma união duradoura, e que devem ser realizados antes de dar início à vida matrimonial. A despreocupação em realizar essas condições preliminares é uma das principais causas do número crescente de casamentos fracassados que nos assola hoje em dia.

A sequência correta

O primeiro princípio contido no verso bíblico é uma clara sequência de passos:
1. Deixar
2. Unir-se
3. Tornar-se uma só carne

A própria ordem desses estágios testifica o gênio do autor inspirado. Já há milhares de anos atrás, um homem deixou escrito em uma curta sentença uma verdade lógica que permanece até hoje. Uma união bem sucedida entre um homem e uma mulher deve ser construída nessa ordem: primeiro o casal deve deixar seus pais, então eles devem entrar no matrimônio (formalmente, e não apenas vivendo juntos, mas seguindo um procedimento estabelecido), e só então é que podem formar uma completa união espiritual e corporal. A união corporal é o complemento e realização total da união espiritual. Por si mesma, a união corporal não é completa, mas a espiritual ou afetiva também não é completa por si só (nem mesmo quando devidamente abençoada) enquanto não for “consumada” na carne. Vamos agora refletir um pouco na sequência relatada, pois o sucesso do matrimônio depende da observação da sequência correta.

Hoje em dia vemos a prática comum de inverter a ordem e ignorar os requisitos de cada estágio sucessivo. É muito comum os jovens primeiro “consumarem” o casamento (terem relação sexual mesmo antes de ser um casamento), usufruindo dos prazeres do corpo e criando “uma só carne” – mas apenas em um sentido corporal, que trivializa e degrada o valor da verdadeira união. Só depois começam a pensar onde vão morar, muitas vezes sem condições de cuidar de si mesmos – se não financeiramente, pelo menos profissionalmente. O casal não vai resolver o problema indo morar com os seus pais. Desse modo, eles não só invertem a ordem dos estágios, como também deixam de cumprir os requisitos de cada estágio. O que temos, então, é um dramático paradoxo, que traz a destruição do casamento antes mesmo dele começar.

O texto bíblico nos fala claramente que observar a sequência correta é uma condição básica para ter um casamento duradouro. Igualmente importante é o cumprimento dos requisitos de cada estágio separado.

1. Deixar

Deixar os próprios pais é uma condição para um casamento feliz. Assim como uma criança não pode se desenvolver plenamente sem deixar o útero da mãe e cortar ter o seu cordão umbilical cortado, do mesmo modo um casamento não pode se desenvolver plenamente sem que o casal deixe seus pais. Embora deixar o pai e a mãe normalmente seja um acontecimento acompanhado de um certo grau de sofrimento e dor, é uma dor necessária, que deve ser superada, pelo bem do casamento.

O versículo do livro do Gênesis faz uma referência específica ao homem, mas é óbvio que isso se aplica tanto ao homem quanto à mulher. A circunstância tem mais a ver com o fato de que, em todas as culturas e tradições, sempre tem sido o homem aquele que leva a responsabilidade de construir um novo lar e levar sua noiva para esse novo lar.

A fim de realizar esse primeiro estágio, o casal deve adquirir independência profissional. Eles devem adquirir uma condição que procure garantir um emprego capaz de sustentar a eles e à nova família. Depois eles devem ganhar um certo grau de independência financeira, que permitirá a mudança, da casa dos pais para a nova casa. Essa mudança é absolutamente necessária. É a maneira visível, exterior, através da qual o casal deixa seus pais, se separa deles, e adquirem um senso de independência e liberdade para agir por si mesmos. Igualmente importante nesse primeiro estágio é ganhar a independência emocional e psicológica necessária para viver sem ter que ser “levado pela mão”. Isso envolve a aquisição de habilidades básicas de vida, como cuidar da própria saúde e se responsabilizar sozinho por formalidades legais. Também tem a ver com esse estágio: ser capaz de assumir responsabilidade por si e pelas próprias ações; prontidão em assumir responsabilidade pelos outros – pela esposa ou marido e pelos futuros filhos; prontidão em se sacrificar pelos outros e aceitar o sofrimento; e, finalmente, conhecimento dos princípios morais básicos, os dez Mandamentos e o Catecismo, incluindo o significado sacramental do matrimônio.

É muito comum os pais dificultarem esses passos na vida dos filhos. Agindo assim, eles fragilizam psicologicamente seus filhos, fazendo-os dependentes financeiramente e psicologicamente dos pais. Em alguns casos, chegam a construir grandes casas, com planos de ter os filhos casados morando com eles. Esse é um sério engano, que ocasiona grande prejuízo para os filhos. Deixar a casa para estudar em outra cidade contribui muito para um jovem se tornar independente em muitos níveis. O serviço militar também pode ser de ajuda para amadurecer uma pessoa. No passado, era mais fácil cumprir esse estágio na vida antes do casamento. As pessoas amadureciam psicologicamente mais rápido do que hoje. Situações extremas, como guerras, aceleravam a entrada dos jovens no mundo dos adultos. Havia também uma outra compreensão do papel dos pais, do homem e da mulher na sociedade. Sob as condições atuais, em que a maturidade emocional e psicológica e um senso de responsabilidade por si e pelos outros chega muito depois da maturidade física, sair um pouco de casa, mesmo pagando o preço de atrasar um casamento, pode ser uma condição necessária para se construir uma união duradoura.

Mudar-se para outro lar não significa cortar relações com os pais, nem significa a negação da obrigação que os filhos têm para com relação aos pais, particularmente quando eles alcançam uma idade mais avançada. O que uma mudança para um novo lar faz é criar um nível inicial de conforto para ambos os lados, e facilitar o desenvolvimento de respeito mútuo. É mais fácil respeitar o outro à distância, quando um lado não está dependente de outro. Viver junto com os pais pode ter suas vantagens, mas elas são superadas em muito pelas desvantagens. Nessa situação de morar com os pais, pode acontecer um estado de grande tensão e estresse. Em situações nas quais isso não pode ser evitado, é necessária uma grande dose de tolerância e de compreensão de ambas as partes. Mas um arranjo assim deve sempre ser considerado temporário e transitório, tendo sempre em mente a necessidade de ter sua vida independente.

Portanto, a casa, o lar do casal, é essencial para a formação de um casamento duradouro, e para a obtenção do grau mais alto de humanização. “Somente realizando uma ruptura com essa realidade inicial, e sendo capaz de confiar a própria vida a outra pessoa, é que revelamos aquela qualidade específica através da qual podemos ser vistos como imagem e semelhança de Deus” (Z. Kiernikowski, Two in One Body in Christ).

O cumprimento interior e exterior do primeiro estágio (deixar os pais) também significa o reconhecimento de que, de agora em diante, a esposa ou o marido é a pessoa mais importante de nossa vida. Deixar nossos pais significa que amadurecemos ao ponto de compreender que, embora os pais continuem sendo importantes para nós, eles já não são mais tão importantes como eram antes de sairmos de casa. Nós passamos a reconhecer que a pessoa de maior importância para nós agora é o marido ou esposa. Depois dele ou dela, vem o fruto de nossa união – nossos filhos – e só depois nossos pais, parentes, amigos etc. Os pais também devem aceitar essa realidade, e não esperar que seus filhos casados os tratem como mais importantes que o marido ou esposa.

Deixar os pais também significa ter e ser capaz de se confiar nas mãos de outra pessoa. Isso envolve um grande risco. Quando deixamos nossos pais e rompemos nossa dependência para com eles, damos um corajoso passo. Nós nos lançamos nos braços de alguém com quem não guardamos laços de sangue. Esse ato de confiança ao marido ou esposa é algo de diferente comparado com o relacionamento anterior com os pais. Com eles, fomos, acima de tudo, recebedores de bens e de cuidados solícitos. Nossos pais nos serviam devotamente. Agora, assumimos o papel de provedores de bens e de cuidado para os outros. Isso significa uma transição, de uma posição na qual somos servidos, para uma posição na qual servimos. Deixar a casa dos pais é, portanto, uma transição para um nível de valores muito mais alto. Esse passo é um passo extraordinariamente difícil, arriscado, e, de fato, impossível de se atingir completamente. Porém, na dimensão nova, na qual Cristo é a realização plena, esse ideal se torna possível, principalmente através da Eucaristia, que é o meio pelo qual o humanamente impossível se torna possível.

Talvez esse estágio, mais do que qualquer outro, necessite que ambos os lados, os filhos que estão deixando a casa, e os pais que precisam aceitar essa partida, possam basear suas decisões humanas no poder da Graça Divina.

(a ser continuado)
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Traduzido e adaptado de: http://www.loveoneanothermagazine.org/nr/true_love_waits_pure/marriage_requires_preparation.html
Revista católica “Love One Another”, da Sociedade de Cristo, Padres poloneses

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O amor conquista tudo

Dave era um garoto normal do Texas, que fazia o ensino médio, e gostava de mexer em carros. Ele tinha uma boa família cristã e cresceu aprendendo a ser fiel a Deus, à família e ao país. A garota que ele gostava na escola, Brenda, achava que ele era um pouco exagerado, quando um dia ele falou para ela no corredor do colégio que a amava. Ela deu um tapa na cara dele, pedindo para nunca mais repetir aquilo, a não ser que fosse de verdade.

Alguns anos depois, depois de ter passado mais tempo com ela – namorando com pureza, e mostrando que ele realmente se importava – Dave pediu Brenda em casamento. Ela disse sim, e pouco depois, estavam casados. Então, um dia chegou uma carta: Dave tinha sido chamado para servir no exército durante a guerra do Vietnam. Como não queria descumprir a ordem, e também não queria morrer, Dave escolheu a Marinha, imaginando que isso lhe traria mais segurança, por estar na água, ao invés de se meter em combate na selva. Logo ele descobriu que tinha sido selecionado para servir em uma unidade especial da Marinha, atuante em rios. Depois de um treinamento rigoroso de patrulhamento de rio, Dave teve uma folga de 10 dias para ir para casa. Ele aproveitou o tempo com Brenda, e no dia da partida para o Vietnam ele beijou Brenda e prometeu: “Bebê, eu vou voltar sem nenhuma cicatriz”. Mal sabia que a palavra “cicatriz” teria um novo significado para ele.

Ele voou para o Vietnam, onde serviu na linha de frente contra os vietcongues. Nos oito meses que se seguiram, Dave manteve sua fé. Ele foi treinado para se manter fiel aos homens com que servia, e a sua mulher, Brenda. Enquanto muitos outros soldados cediam e se entregavam a aventuras com drogas, pornografia, ou prostitutas, Dave manteve-se firme em seus votos. Ele estava apaixonado, e guardava todas as premiações para dar de presente a Brenda – dinheiro que ele guardava para ela, ao invés de gastar em atos frívolos de auto satisfação.

Faltando apenas uma semana para receber uma viagem paga ao Havaí para aproveitar com Brenda cinco dias de uma segunda lua de mel, durante um intenso tiroteio em 25 de julho de 1969, com os vietcongues bem próximos, a unidade de Dave sofreu uma emboscada. Seus colegas sobreviveram ao ataque, mas alguma coisa (uma bala ou um estilhaço) deixou uma pequena marca em sua bochecha. Dave tirou o pedaço de metal sem dificuldade, e agradeceu por estar vivo. Mas essa era uma pequena cicatriz. Seria o próximo dia que mudaria sua vida para sempre.

Era 26 de julho de 1969, perto da fronteira com o Camboja, quando a unidade de Dave subiu o rio para fazer o patrulhamento da mesma área onde tinha ocorrido o intenso combate do dia anterior. Enquanto o barco deslizava suavemente, tudo estava quieto. Dave sentiu que algo estava errado. Ele se abaixou e apanhou uma granada, puxou o pino, e preparou-se para atirá-la, pretendendo criar uma cortina de fumaça para encobrir seu barco.

Mas uma luz piscou como em um flash, e o mundo pareceu explodir. Um combatente tinha atirado em Dave, atingindo sua mão, e a granada, que estava apenas a centímetros de sua face. Ela explodiu.


Em um instante, o corpo de Dave estava pegando fogo; o lado direito de sua face estava destruído. Ele pulou na água e nadou até a margem, onde desmaiou, ainda em chamas. Ele foi resgatado por um helicóptero, e o médico chegou a pensar que ele estava morto. Mas ele resistiu, e foi levado até o Japão, e depois de um tempo de recuperação, foi mandado de volta a San Antonio, Texas.

O soldado na cama ao lado estava sem pele, queimado da cabeça aos pés. Dave ouviu a mulher dele chegar, e jogar a aliança aos pés dele. Ela disse que nunca mais poderia andar com ele na rua. E saiu. Enquanto Dave esperava por Brenda, ele temia o pior. Como poderia ele, um “monstro com a face deformada”, ficar com uma mulher linda como Brenda, muito menos continuar sendo o amor de sua vida?

Ali estava ele – apenas um resquício do homem que tinha beijado Brenda na despedida oito meses atrás. Tudo que ele podia fazer era esperar, e temer. Finalmente, Brenda chegou. Como não conseguia identificar Dave pela aparência, ela se aproximou de sua cama e conferiu o nome escrito no seu prontuário, e a etiqueta de identificação em seu pulso, para ter certeza que era ele. Então, ela se inclinou e o beijou... na face. “Eu quero que você saiba que eu te amo”, ela disse, enquanto olhava para ele, no olho do lado bom de sua face. “Bem vindo a casa, Dave”.

Brenda permaneceu o quanto foi permitido a ela naquele dia, e, através do seu amor, a esperança reacendeu no coração de Dave.

Dave começou a experimentar o amor de um modo que jamais tinha imaginado, desde quando tinha dito o seu “sim”, em 15 de julho de 1967. O “sim” de Brenda se tornou um compromisso diário. Ela realmente foi sincera em seus votos, e os manteve. O corpo de Dave permaneceu desfigurado, e Brenda permaneceu completamente fiel. Deus foi fiel a ambos, e agora, trinta e nove anos depois, Brenda e Dave ainda vivem um maravilhoso amor, com dois filhos, e alguns netos, o fruto duradouro de seu casamento fiel.



O casamento deles foi feito no céu, fortalecido durante a guerra, e para sempre marcado pelos votos fiéis de um amor que queima mais profundamente do que qualquer granada, e que fala mais alto do que qualquer cicatriz.
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Traduzido e adaptado do livro “Teologia do Corpo para Jovens” (Theology of the Body for Teens, de Brian Butler, Jason Evert e Crystalina Evert, p. 119-120, Eed. Ascension Press, 2006)


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