quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Uma conversa sobre masturbação

Há algum tempo atrás, enquanto dava uma palestra, uma pessoa simplesmente não acreditou quando eu disse que masturbação não fazia bem, e era pecado. Ele não achou que estivesse falando sério.

O problema com os pecados contra a castidade é que, infelizmente, vivemos em um mundo que não valoriza a pureza, e portanto não consegue conceber o que é ser uma pessoa pura de coração, porque simplesmente essa é uma experiência que lhe foge completamente. Para muitas pessoas está simplesmente fora de seu horizonte de existência.




Primeiramente é preciso dizer que a castidade não é sinônimo de abstinência de sexo. Pode ser que, no caso da pessoa solteira, coincida com a abstinência. Mas cônjuges também devem viver a castidade em seus relacionamentos íntimos. A castidade é a virtude da temperança e da pureza, vivida com relação ao corpo e a sexualidade. Ela significa viver os valores sexuais (sim, eles são valores positivos!) dentro de sua justa proporção, dentro do plano para o qual foram criados por Deus. Significa viver os valores sexuais dentro de uma realidade maior, onde a atração sexual está a serviço do amor verdadeiro, e a ele se orienta.

O contrário da castidade é a luxúria, é um vício que leva as pessoas a ver seu semelhante como um objeto de satisfação de prazeres, e não um ser humano integral que recebe amor e é amado(a). Quem não vive a castidade não sabe o que é amor, pura e simplesmente, porque confunde amor com atração sexual, confunde amor com satisfação sensual, confunde amor com prazeres carnais.

Não é que o verdadeiro amor exclui o prazer. Não. Cônjuges que vivem seus relacionamentos íntimos com certeza sentem prazeres sensuais. Mas, se eles se amam de verdade, não escolheram amar a outra pessoa só por causa desse prazer que ele(a) proporciona. O prazer vem em decorrência de sua união. Não foi a causa da união. A causa da união foi, e continua sendo, o amor verdadeiro. Com o passar dos anos, quando a atração sexual vai normalmente diminuindo, o que fica entre eles é o amor. Casais que não fizeram do amor a razão primeira de sua escolha de um para o outro, nesse ponto correm o risco de cair em um vazio. Muitas vezes essa é a causa do divórcio. Quem não ama de verdade não sabe superar as dificuldades da vida em comum, perdoar as deficiências da outra pessoa, viver escolhendo novamente aquela pessoa de novo e de novo, a cada dia.

Hoje em dia a masturbação é comumente praticada entre adolescentes. Em uma pesquisa acadêmica de 2011, 80% dos jovens rapazes americanos de 17 anos reportaram ter praticado masturbação pelo menos uma vez na vida (1), com mais da metade reportando uma frequência de pelo menos algumas vezes no mês. A percentagem de jovens que se masturbam é maior entre os homens, porém entre as mulheres está longe de ser um raridade. O percentual de jovens mulheres americanas de 17 anos que reportaram ter praticado masturbação chega a 58%, consituindo mais da metade (1).Com uma percentagem tão alta, não é de estranhar que as pessoas passem a ver a masturbação como uma coisa "normal".

O que é preocupante com isso tudo é que a masturbação não ensina a viver os valores sexuais dentro da dimensão do amor verdadeiro.  Organizações e profissionais de saúde tendem a considerar a masturbação como uma prática "normal", "natural", como "parte do desenvolvimento da sexualidade". Mas essa visão não levam em conta aspectos morais. A tendência desses profissionais e pessoas supostamente "entendidas" do assunto é que a religião só serve para trazer "culpa" e sentimentos de "angústia" para os adolescentes, pois a religião se permite questionar se a masturbação faz mesmo bem ou não para os jovens. Por isso, muitas vezes sugerem "abandonar" as visões religiosas, sugerindo que isso vai trazer melhor "auto-estima" para os adolescentes.

Essa é uma visão muito simplista, e que não considera o ser humano como um todo. Nós temos uma consciência moral, não somos apenas "animais evoluídos" que se limitam a reagir psicologicamente a estímulos. Não é a religião que "cria" sentimentos de culpa, mas nossa própria consciência parece nos alertar que "algo está errado aqui". Mas, infelizmente, essa visão preconceituosa contra a religião é a que prevalece, e muitas vezes as pessoas nem querem ouvir o que a religião tem a dizer sobre o assunto.

Somado a isso, temos, infelizmente, o mau exemplo de muitos líderes religiosos, que, por um motivo ou por outro, não sabem traduzir em palavras boas e afirmativas uma proposta convincente para os jovens de hoje viverem a castidade.

Paremos para pensar por um momento sobre o que é a masturbação: uma estimulação dos próprios órgãos genitais visando obter prazer. Agora passemos a comparar essa definição com o projeto de uma relação madura e feliz: um casal que se ama de verdade e se compromete no matrimônio a viver em fidelidade para fazer o outro feliz, e que como instrumento de expressão desse amor vive a união sexual aceitando plenamente tudo que ela traz, ou seja, uma união de vida, não só de corpo, mas também de sentimentos e companheirismo. Agora vem a pergunta: como uma coisa pode ajudar a outra? Como a masturbação pode ajudar a viver em plenitude a vocação matrimonial? A resposta é: não pode.

Não pode porque a masturbação não tem nenhuma característica que venha a "treinar" ou "preparar" a pessoa para viver em um matrimônio sadio, satisfatório, onde existe verdadeiro amor e complementaridade. Mesmo a nível puramente do prazer sexual, a masturbação "treina" o cérebro para se excitar com situações e práticas que não farão parte do panorama de uma relação sexual a dois, normal, entre os cônjuges.

Mas lembre-se que o matrimônio não é composto só de prazer sexual. O prazer é uma parte de um todo mais complexo, que inclui a escolha de um pelo outro, a aceitação social de viver juntos e partilhar a mesma casa e conviver com as mesmas famílias, a aceitação e criação dos filhos, o companheirismo de quem prometeu viver o resto da vida em fidelidade e amor para com aquele(a) cônjuge. Todos esses fatores não são tocados nem de perto pela masturbação.

Por isso o Catecismo da Igreja Católica relata que "a masturbação é um ato intrínseca e gravemente desordenado", pois "o uso da faculdade sexual fora das relações conjugais normais (leia-se: casamento) contradiz sua finalidade" (2).

Uma pessoa certa vez argumentou comigo que a masturbação seria "natural" por fazer parte de um processo de "descoberta do próprio corpo". Esse argumento não pode ser levado a sério. Pare para pensar no caso de um jovem que pratica masturbação frequentemente, vamos dizer mais de duas vezes por semana, repetindo isso durante os anos de sua adolescência. Ao chegar na vida adulta, esse jovem terá realizado centenas, senão milhares de atos de masturbação. Fica difícil argumentar sobre a necessidade de uma quantidade tão grande de masturbação para "descoberta do próprio corpo" quando sabemos que o corpo de um ser humano normal ocupa uma quantidade tão limitada de espaço. Em outras palavras, é patético dizer que o jovem precisa se masturbar tantas vezes para "conhecer o próprio corpo" quando seu corpo é claramente limitado espacialmente falando.

Além do mais, para "conhecer o próprio corpo" não é preciso experimentar prazer sexual. Então algumas pessoas podem argumentar que é preciso "conhecer o prazer sexual". Não existe nenhuma razão para uma suposta "necessidade" de conhecer as sensações envolvidas no prazer sexual fora do casamento, a não ser a própria busca de prazer. E, a título de argumentação, não seria verdade que um só orgasmo já seria suficiente para saber o que ele é? Portanto, após a primeira masturbação as outras não teriam mais sentido, segundo esse argumento. Fica claro que a defesa que algumas pessoas fazem da masturbação não passa de "desculpas" para tentar calar a própria consciência e tentar tornar "normal" uma prática que, no fundo, não leva a nada, e não tem nenhum sentido real para existir. O único (falso) "sentido" é a busca do prazer.

Como vivemos em uma sociedade que faz do prazer o único e absoluto bem, as pessoas continuam buscando esse prazer a qualquer custo. Para uma pessoa que se converte, vem a crise, porque ela passa a conhecer mais sobre moralidade, Deus, a religião, o bem, o amor verdadeiro, Jesus Cristo, e de repente não quer "largar" os hábitos antigos, porque isso implicaria renunciar a prazeres com os quais está acostumada. Tem dificuldade para abandonar esses "prazeres" não só por motivos psicológicos, mas até mesmo por motivos neurológicos, pois nosso cérebro se "acostuma" com aquilo, e tem verdadeiras "crises de abstinência". (3)

Dizer que não é fácil viver a castidade é chover no molhado. É óbvio. Mas Jesus nunca disse que segui-lo seria fácil. Ele pediu para entramos na porta estreita (4). Temos muito a ganhar se passarmos a procurar entender o que é o amor verdadeiro, e procurarmos vivê-lo em plenitude. Outros artigos do nosso blog podem ajudar. (5)

Uma última palavra, então, para você que está lendo esse artigo: não desista nunca da busca da pureza, da castidade. Se o caminho é longo, ele começa pelo primeiro passo. E se vierem quedas, sempre se levante. Longe de te deixar triste ou angustiado, esse caminho vai ter levar a descobrir uma nova realidade, onde existe mais paz e felicidade.



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Notas:

 (1) Prevalence, Frequency, and Associations of Masturbation With Partnered Sexual Behaviors Among US Adolescents. Cynthia L. Robbins, MD; Vanessa Schick, PhD; Michael Reece, PhD, MPH; et al Debra Herbenick, PhD, MPH; Stephanie A. Sanders, PhD; Brian Dodge, PhD; J. Dennis Fortenberry, MD, MS. Arch Pediatr Adolesc Med. 2011;165(12):1087-1093. Disponível em: <http://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/1107656>

(2) Catecismo da Igreja Católica, §2352 (http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s2cap2_2196-2557_po.html)

(3) Veja artigo no blog Vida e Castidade: "A pornografia é tão perigosa quanto cocaína ou heróina" (http://vidaecastidade.blogspot.com/2017/02/a-pornografia-e-uma-droga-tao-perigosa.html)

(4) Mt 7, 13 - "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram."

(5) Artigos sobre masturbação (http://vidaecastidade.blogspot.com/2009/05/artigos-sobre-masturbacao.html
Artigos sobre pornografia (http://vidaecastidade.blogspot.com/2009/05/artigos-sobre-pornografia.html
Artigos sobre Teologia do Corpo (http://vidaecastidade.blogspot.com/2009/05/artigos-sobre-teologia-do-corpo.html)

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