terça-feira, 11 de maio de 2010

40 anos depois, as palavras do Papa sobre controle de natalidade resistem ao teste do tempo

Por Douglas Farrow

Quarenta anos atrás, em 25 de Julho de 1968, o Papa Paulo VI emitiu a sua sétima e última carta encíclica, que não era dirigida apenas aos bispos, clero e fiéis da Igreja Católica, mas a todas as pessoas de boa vontade. A carta era sobre a "regulação dos nascimentos", e sua promulgação foi aguardada com grande expectativa.

Um método novo e imediatamente popular de contracepção tinha aparecido dez anos antes - a pílula foi introduzida em 1958 - e muitos esperavam ardentemente que o Papa que supervisionou o Concílio Vaticano II, no qual a Igreja tinha “aberto suas janelas” para o mundo moderno, fosse sinalizar agora a aprovação de seu uso.


Essas esperanças foram frustradas. A Humanae vitae reafirmou a doutrina tradicional da Igreja: os atos de contracepção artificial são "intrinsecamente desordenados e, portanto, indignos da pessoa humana, mesmo quando a intenção é salvaguardar ou promover bens individuais, familiares ou o bem-estar social".

A “choradeira” foi enorme, e diz-se que isso partiu o coração do Papa. Entre os líderes cristãos de prestígio internacional, somente o Patriarca Ecumênico se levantou em sua defesa. A maioria das denominações protestantes - a começar com os anglicanos na sua Conferência de Lambeth de 1930 - tinha começado a fazer as pazes com a contracepção artificial alguns anos antes.

Então é claro que havia muitos católicos do Canadá que já estavam apreciando sua “Revolução Silenciosa” (entre 1959 e 1971, a taxa de natalidade em Quebec caiu do maior para o menor patamar entre as regiões do Canadá). A consternação foi sentida em todo o país. Em 27 de setembro, quase dois meses após a promulgação da encíclica, os bispos canadenses lançaram a Declaração de Winnipeg, como um ato de “controle de danos”.

A Declaração de Winnipeg fez uma grande concessão, que contrariou a solidariedade que os bispos professam ter para com o Papa. As pessoas, eles disseram, "que têm tentado, sem sucesso, mas sinceramente, perseguir uma linha de conduta em conformidade com as diretivas dadas... pode estar seguramente certas de que quem escolhe honestamente esse caminho que parece certo para ele o faz em boa consciência." É seguro dizer que a grande maioria dos católicos levou em conta essas palavras dos bispos e continuou suas viagens à farmácia.

Quarenta anos depois, no entanto, é a Humanae vitae – e não a Declaração de Winnipeg – que tem resistido ao teste do tempo. Estudo após estudo tem documentado a precisão fantástica das previsões, na época ridicularizadas, do Papa, previsões que se destacam fortemente contra as falhas dos “queridos” profetas contemporâneos, como Paul Erhlich, que no mesmo ano, publicou seu livro famoso e equivocado, “The Population Bomb”.

Entre essas previsões estavam o aumento acentuado nos casos de adultério e de fornicação (o que nós aprendemos a chamar de "sexo casual"), o aumento correspondente na alienação entre homens e mulheres (que nós chamamos agora de “guerra de gênero”), o enfraquecimento da família (pois agora não temos sequer uma definição dela), e especialmente a intrusão do Estado "no setor mais pessoal e mais reservado da intimidade conjugal" - isto é, nos próprios processos de reprodução humana.

Sobre este último ponto, Paulo VI advertiu que os governantes poderiam até começar a impor ao seu povo "o método de contracepção que eles julgassem ser mais eficaz". Esta previsão, bastante ridicularizada na época, encontrou sua realização na China, que não só permite a contracepção, a esterilização e o aborto como meio legítimo de regulação de nascimentos, mas impõe-lhes sistematicamente.

A adoção da mentalidade contraceptiva por parte do Canadá (não pensamos muito no "grave dever de transmitir a vida humana"), produziu o problema da exacerbada redução populacional. Ainda assim, através do Fundo das Nações Unidas para População o Canadá participa de uma grande variedade de políticas de “planejamento familiar” manipulativas, para não dizer assassinas, incluindo as da China. E as suas políticas em casa, especialmente na área da educação sexual, sobre o que a Declaração de Winnipeg foi tão absurdamente esperançosa, são apenas marginalmente menos manipuladoras. Os bispos canadenses nunca imaginaram programas obrigatórios ensinando as crianças católicas como experimentar todo tipo de sexo “estéril”, incluindo a sodomia, ou como apreciar o fato de que "famílias" vem em todos os tamanhos e formas. Nem os políticos católicos previram as taxas astronômicas de divórcio e de aborto, ou seu multi-bilionário custo anual, quando em 1968 eles decidiram adaptar nosso sistema jurídico à era dos anticoncepcionais.

A Humanae vitae, no entanto, não se contentou apenas com a previsão da dissolução da vida familiar nas águas rasas da mentalidade contraceptiva. Ela efetivamente condenou a contracepção como uma violação da lei natural que, separando as dimensões unitiva e procriativa da sexualidade humana, também separou os próprios laços sociais que ela deveria proteger. Mas ela também reconheceu que a aceitação da contracepção artificial dissolveria laços eclesiais, rasgando um grande buraco na visão sacramental da Igreja sobre o casamento. Para provar isso não precisamos ir mais longe do que a Comunhão Anglicana, reunida este mês para a sua Conferência de Lambeth 2008, na vã esperança de salvar seu navio afundando.

Paulo VI não ignorava que os católicos, para não mencionar os outros "homens de boa vontade", a quem ele dirigiu a sua carta, teriam grande dificuldade em aceitar o ensinamento da Humanae vitae. Ele sabia, no entanto, que a forma adequada da Igreja chegar ao mundo moderno não era diferente do que a maneira com que tinha abordado o mundo antigo. Tinha que falar a verdade no amor, custe o que custar. "A Igreja", disse ele, "não se surpreende em se tornar, como seu divino Fundador, um ‘sinal de contradição'”. Isso é como a própria Igreja sobrevive ao teste do tempo.

A Humanae vitae foi sinal de contradição não tanto por causa da sua condenação da contracepção, mas por causa da sua visão construtiva para o casamento. Aquele que se importar hoje em ler esse “infame” documento, nesse seu quadragésimo aniversário, vai descobrir, para sua surpresa, que ele traz uma visão atraente do amor esponsal e da paternidade responsável. Integrando os princípios da caridade, da castidade e "a intervenção da inteligência" na vida conjugal, ele estabelece a base sobre a qual João Paulo II viria a construir com habilidade pastoral suprema. Como consequência de sua intervenção corajosa existe hoje uma nova geração de fiéis católicos que estão aprendendo a lidar com seu próprio chamado a ser sinal de contradição na cultura canadense. Que seu número aumente, e sem dúvida aumentará.
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Douglas Farrow é professor adjunto de pensamento cristão na McGill University e autor do livro “Nation of Bastards”.

Traduzido de: http://network.nationalpost.com/np/blogs/fullcomment/archive/2008/07/31/douglas-farrow-40-years-later-the-pope-s-words-on-birth-control-have-stood-the-test-of-time.aspx

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